"Quem não Reza não pode ser de Deus"( Santa Teresa D'Ávila)
Santa Teresa de Ávila, conseguiu recuperar o fervor de muitas carmelitas
Com grande alegria lembramos, hoje, da vida de santidade daquela que mereceu ser proclamada “Doutora da Igreja”: Santa Teresa de Ávila (também conhecida como Santa Teresa de Jesus). Teresa nasceu em Ávila, na Espanha, em 1515 e foi educada de modo sólido e cristão, tanto assim que, quando criança, se encantou tanto com a leitura da vida dos santos mártires a ponto de ter combinado fugir com o irmão para uma região onde muitos cristãos eram martirizados; mas nada disso aconteceu graças à vigilância dos pais.
Aos vinte anos, ingressou no Carmelo de Ávila, onde viveu um período no relaxamento, pois muito se apegou às criaturas, parentes e conversas destrutivas, assim como conta em seu livro biográfico.
Certo dia, foi tocada pelo olhar da imagem de um Cristo sofredor, assumiu a partir dessa experiência a sua conversão e voltou ao fervor da espiritualidade carmelita, a ponto de criar uma espiritualidade modelo.
Foi grande amiga do seu conselheiro espiritual São João da Cruz, também Doutor da Igreja, místico e reformador da parte masculina da Ordem Carmelita. Por meio de contatos místicos e com a orientação desse grande amigo, iniciou aos 40 anos de idade, com saúde abalada, a reforma do Carmelo feminino. Começou pela fundação do Carmelo de São José, fora dos muros de Ávila. Daí partiu para todas as direções da Espanha, criando novos Carmelos e reformando os antigos. Provocou com isso muitos ressentimentos por parte daqueles que não aceitavam a vida austera que propunha para o Carmelo reformado. Chegou a ter temporariamente revogada a licença para reformar outros conventos ou fundar novas casas.
Santa Teresa deixou-nos várias obras grandiosas e profundas, principalmente escritas para as suas filhas do Carmelo : “O Caminho da Perfeição”, “Pensamentos sobre o Amor de Deus”, “Castelo Interior”, “A Vida”. Morreu em Alba de Tormes na noite de 15 de outubro de 1582 aos 67 anos, e em 1622 foi proclamada santa. O seu segredo foi o amor. Conseguiu fundar mais de trinta e dois mosteiros, além de recuperar o fervor primitivo de muitas carmelitas, juntamente com São João da Cruz. Teve sofrimentos físicos e morais antes de morrer, até que em 1582 disse uma das últimas palavras: “Senhor, sou filha de vossa Igreja. Como filha da Igreja Católica quero morrer”.
No dia 27 de setembro de 1970 o Papa Paulo VI reconheceu-lhe o título de Doutora da Igreja. Sua festa litúrgica é no dia 15 de outubro. Santa Teresa de Ávila é considerada um dos maiores gênios que a humanidade já produziu. Mesmo ateus e livres-pensadores são obrigados a enaltecer sua viva e arguta inteligência, a força persuasiva de seus argumentos, seu estilo vivo e atraente e seu profundo bom senso. O grande Doutor da Igreja, Santo Afonso Maria de Ligório, a tinha em tão alta estima que a escolheu como patrona, e a ela consagrou-se como filho espiritual, enaltecendo-a em muitos de seus escritos.
Santa Teresa de Ávila, rogai por nós!
o final da sua viagem espiritual, Santa Teresa de Jesus escreveu o livro das Moradas, no qual compara a nossa alma –o lar de Deus– com um castelo. As primeiras moradas correspondem à entrada na vida espiritual e são o fundamento de todas as posteriores.
Santa Teresa de Jesus, também conhecida como Santa Teresa de Ávila, se apoia principalmente em quatro citações bíblicas:
“Na casa do meu Pai há muitas moradas” (João 14,2) – esta passagem, segundo a santa, evoca o “castelo interior”.
“Quem me ama guardará a minha palavra; meu Pai o amará e viremos a ele e nele faremos a nossa morada” (João 14,23) – um resumo do itinerário espiritual que ela explica.
“Minhas delícias estão nos filhos dos homens” (Provérbios 8,31) – mostra que nós somos o paraíso de Deus.
“Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança”(Gênesis 1,26) – a mostra de que fomos criados para amar como Deus ama, porque Deus é amor. A vontade de Deus é que nós nos amemos como Ele nos ama.
A primeira morada é o portal de entrada na vida espiritual.
Nós o cruzamos mediante a decisão de buscar a Deus em nós, apoiando-nos n’Ele, já que a pior das misérias, para Santa Teresa de Jesus, é viver sem Deus e até imaginar que podemos fazer o bem sem Deus.
Os quatro frutos da primeira morada, que amadurecerão ao longo do nosso caminho espiritual, são a liberdade, a humildade, o desprendimento e, acima de tudo, a caridade, que é o fim e a culminação.
A segunda, terceira e quarta moradas permitirão aprofundar na vida espiritual entendida como caminho rumo a Deus, como busca de Deus e participação progressiva na vida divina.
Este dom é gratuito, mas temos que estar determinados a recebê-lo e fazer desse recebimento o centro da nossa vida, purificando, assim, o lugar de nós onde habita Deus.
É Deus quem nos faz passar de uma morada à outra, quando quer e da forma que quer.
A segunda morada diz respeito à purificação da nossa relação com o mundo.
A arma utilizada para triunfar aqui é a fé em Cristo e a confiança na Sua vinda para nos libertar (cf. Gálatas 5,1).
A terceira morada está ligada ao esclarecimento da relação com nós mesmos.
Corremos o risco de ser como aquele jovem rico que teve um bom começo, mas que termina todo triste.
O desafio desta terceira morada é reconhecer-nos como um “servo qualquer”, que recebe tudo de Deus.
A quarta morada aprofunda a nossa relação com Deus.
Uma grande paz vai se instaurando progressivamente nas profundidades da nossa alma. A confiança, a humildade e a gratidão são realidades que vão sendo vividas cada vez mais profundamente.
A entrada na quinta morada marca uma transição:
Não passamos da quarta à quinta da mesma forma que tínhamos passado da segunda à terceira ou da terceira à quarta.
Consideramos a nossa vida não tanto como um caminho rumo a Deus, mas experimentamos Deus vivendo em nós, como explica a frase de São Paulo: “Já não sou eu quem vive, é Cristo que vive em mim!” (Gálatas 2,20).
O desejo de amar é mais intenso; ao receber uma vida nova, perdemos os nossos antigos pontos de referência e as nossas seguranças habituais.
A sexta morada consiste nos “compromissos espirituais”:
Há uma alternância de sofrimentos ligados ao sentimento de ausência de Deus e a experiências muito profundas da presença de Cristo. Aqui intervém uma dilatação ainda mais profunda do coração e do desejo de Deus.
A arma utilizada aqui é sempre a volta à santa humanidade de Cristo: Jesus se une a nós em nossa debilidade humana para transformá-la, para revitalizar o nosso desejo de amar em comunhão com Ele.
A sétima morada, enfim, é o ponto de culminação definido pela união com Deus no “matrimônio espiritual”.
Este matrimônio espiritual foi concedido a Santa Teresa de Jesus em 18 de novembro de 1572.
A união com Deus é uma participação profunda no desejo de Deus de salvar todas as pessoas.
Através do matrimônio espiritual, tudo fica transformado e se recebe um renovado desejo de viver assumindo a própria condição e os próprios compromissos terrenos de maneira ainda mais concreta e sem fugir da realidade.
O fenômeno da transverberação ficou conhecido principalmente por causa da famosa escultura de Gian Lorenzo Bernini, chamada "O Êxtase de Santa Teresa", que está na Igreja de Santa Maria della Vittoria, em Roma. Essa magnífica obra barroca retrata uma experiência relatada pela própria Santa Teresa de Jesus, em sua autobiografia:
"Quis o Senhor que eu tivesse algumas vezes esta visão: eu via um anjo perto de mim, do lado esquerdo, em forma corporal, o que só acontece raramente. Muitas vezes me aparecem anjos, mas só os vejo na visão passada de que falei. O Senhor quis que eu o visse assim: não era grande, mas pequeno, e muito formoso, com um rosto tão resplandecente que parecia um dos anjos muito elevados que se abrasam. Deve ser dos que chamam querubins, já que não me dizem os nomes, mas bem vejo que no céu há tanta diferença entre os anjos que eu não os saberia distinguir.
Vi que trazia nas mãos um comprido dardo de ouro, em cuja ponta de ferro julguei que havia um pouco de fogo. Eu tinha a impressão de que ele me perfurava o coração com o dardo algumas vezes, atingindo-me as entranhas. Quando o tirava, parecia-me que as entranhas eram retiradas, e eu ficava toda abrasada num imenso amor de Deus. A dor era tão grande que eu soltava gemidos, e era tão excessiva a suavidade produzida por essa dor imensa que a alma não desejava que tivesse fim nem se contentava senão com a presença de Deus. Não se trata de dor corporal; é espiritual, se bem que o corpo também participe, às vezes muito. É um contato tão suave entre a alma e Deus que suplico à Sua bondade que dê essa experiência a quem pensar que minto."[1]
De acordo com a descrição de Santa Teresa, está a se falar, sobretudo, de uma experiência extraordinária do amor de Deus. Como muitos não acreditaram no que ela relatou – a própria santa faz referência "a quem pensar que minto" –, o próprio Deus fez questão de mostrar a veracidade do que ela dizia. Em 1591 – dez anos após a sua morte e vinte após a sua transverberação –, exumaram o seu corpo e perceberam que estava incorrupto. Então, a pedido de um bispo, o coração de Teresa foi retirado, a fim de que fosse exposto na cidade de Alba de Tormes, onde ela morreu. Para espanto geral, havia em seu coração uma ferida cicatrizada, com sinais de cauterização – o que se encaixa perfeitamente com a experiência da transverberação, quando foi penetrada por um "dardo de ouro comprido" em cuja ponta de ferro "parecia que tinha um pouco de fogo": o atestado divino de que esse fenômeno é verdadeiro e a santa não estava mentindo.
A própria Igreja, porém, tem critérios muito rigorosos para aprovar esses tipos de milagres. O padre Quevedo, no livro "Os Milagres e a Ciência", fala, por exemplo, do cardeal Prospero Lambertini – Papa Bento XIV –, que, com bastante cuidado científico, investigou o caso da transverberação de Santa Teresa e defendeu a fé católica contra embustes e falsificações, aprovando esse fato extraordinário.
Mas, em que consiste, de fato, a transverberação? Trata-se de uma experiência que, antes de qualquer coisa, acontece na alma. Santa Teresa mesma diz que a dor causada pelo dardo místico do anjo "não é dor corporal, mas espiritual". No caso dela, bem como no caso de São Pio de Pietrelcina e de São Francisco de Assis, a transverberação teve efeitos também corporais. Mas eles não são necessários, como explica São João da Cruz:
"Se Deus, por vezes, permite que se produza algum efeito exterior, nos sentidos, semelhante ao que se passou no espírito, aparece a chaga e ferida no corpo. Assim aconteceu quando o serafim feriu a São Francisco: chagando-o de amor na alma com as cinco chagas, também se manifestou o efeito delas no corpo, ficando as chagas impressas na carne, tal como foram feitas na alma ao ser chagada de amor. Em geral, não costuma Deus conceder alguma mercê ao corpo, sem que primeiro e principalmente a conceda no interior, à alma."[2]
No processo de santificação, o mais importante é o que acontece no espírito, não no corpo. Por isso, adverte ainda São João da Cruz, "quanto mais intenso é o deleite, e maior a força do amor que produz a chaga dentro da alma, tanto maior é também o efeito produzido na chaga corporal, e crescendo um, cresce o outro"[3]. Ou seja, a medida verdadeiramente extraordinária desse fato não está senão no interior, no que acontece à alma.
Santa Teresinha do Menino Jesus também passou por essa realidade mística, mas sem receber chagas corporais. Em um relato do dia 7 de julho de 1897, recolhido no "Caderno Amarelo", de Madre Inês de Jesus, é possível ler:
"Começava a minha Via Sacra quando, de repente, fui tomada por um amor tão violento pelo Bom Deus, que não posso explicar isso senão dizendo que era como se me tivessem mergulhado toda no fogo. Oh! Que fogo e que doçura ao mesmo tempo! Eu ardia de amor e sentia que um minuto, um segundo a mais, e não conseguiria mais suportar tal ardor sem morrer. Compreendi, então, o que dizem os Santos sobre esses estados que eles experimentaram tantas vezes."[4]
Mas, afinal, o que acontece à alma transverberada? Ela é completamente invadida pelo amor divino. É Deus mesmo quem age na alma para aumentar nela a caridade.
Isso é feito no sentido de aumentar a comunhão da alma com Deus. Algumas pessoas têm uma visão equivocada de santidade: acham que é um "moralismo", em que se seguem os mandamentos e, com as próprias forças, se chega à perfeição. Mas a santidade não é isso. Ela é, ao invés, o progresso no amor: Deus derrama em nossos corações o Seu Espírito e purifica o nosso amor, até chegarmos à caridade perfeita, às últimas moradas do nosso "castelo interior".
Como se dá esse processo? Primeiro, acontece a conversão, quando se deixa a vida de pecado e se trilha a "via purgativa", com oração e mortificações. Então, não havendo mais o que se purificar ativamente, Deus prova a alma pela "noite escura dos sentidos" e pela "noite escura da alma", depois das quais ela se encontra em um estágio elevado de santificação.
Santa Teresa recebeu o dom da transverberação quando estava na sexta morada. Tendo passado pela "união árida" (também chamada "noite escura"), não tinha ainda chegado à perfeição. Ela encontrava-se em um estágio intermediário, chamado de "união extática", em que alma recebe os fenômenos extáticos, é tocada pelo amor, mas ainda existem muitos altos e baixos. Faltava-lhe passar pela "união transformante", na qual a alma se configura definitivamente a Cristo – o que aconteceu quando ela entrou na sétima morada.
São João da Cruz, ainda em seu "Chama Viva de Amor", descreve com detalhes a transverberação:
"Acontece-lhe, então, sentir que um serafim investe sobre ela, com uma flecha ou dardo todo incandescente em fogo de amor, transverberando esta alma que já está inflamada como brasa, ou, por melhor dizer, como chama viva, e a cauteriza de modo sublime. No momento em que é cauterizada assim, e transpassada a alma por aquela seta, a chama interior impetuosamente irrompe e se eleva para o alto com veemência, tal como sucede num forno abrasado ou numa fogueira quando o fogo é revolvido e atiçado, e se inflama em labareda. A alma, então, ao ser ferida por esse dardo incendido, sente a chaga com sumo deleite. Além de ser toda revolvida com grande suavidade, naquele incêndio e impetuosa moção que lhe causa o serafim, provocando nela grande fervor e amoroso desfalecimento, ao mesmo tempo sente a ferida penetrante e a força do veneno com que vivamente estava ervada aquela seta, qual uma ponta afiada a enterrar-se na substância do espírito, a traspassar-lhe o mais íntimo da alma."[5]
Em resumo, a transverberação é Deus agindo na alma para purificar o amor humano e levar à paz definitiva com Cristo já nesta terra. Assim conduzida, a alma santificada pode finalmente dizer: "Eu vivo, mas já não sou eu; é Cristo que vive em mim"[6].
Referências
O Livro da Vida, capítulo 29, n. 13
Chama Viva de Amor, canção II, n. 13. In Obras Completas, volume II
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