Os Sonhos Proféticos de São João Bosco
SONHOS DE DOM BOSCO
ÍNDICE
1
- O sonho das quatorze mesas
2
- Sonho dos Pães
3
- A marmota
4
- O sonho das consciências
5
- SOS - uma jangada, um convite ao céu
6
- Presente para Nosso Senhora
7
- Vinte e duas luas
8
- Sonho das consciências
9
- As três pombas
10
- Trabalho, trabalho, trabalho
11
- A misteriosa senhora
12
- A videira misteriosa
13
- O sonho da pastora e da estranha grei
14
- As dez colinas
15
- Dois sacerdotes na catedral
16
- O buraco e a serpente
17
- AS missões salesianas na América Meridional
18
- Sobre a eleição de estado
19
- As distrações na igreja
20
- Os jogadores
21
- O sacrilégio
22
- O purgatório
23
- Vocações tardias
24
- O nicho em São Pedro
25
- Os propósitos da confissão
26
- A misericórdia divina
27
- Um banquete misterioso
28
- Os cabritos
29
- As feras do prado
30
- A videira
31
- Sacerdote e alfaiate
32
- O auxílio do céu
33
- Através da América do Sul
34
- A palavra de Deus e a murmuração
35
- As vocações
36
- Sonha exercícios escolares
37
- Um vale extensíssimo e uma alta colina
38
- A lanterna mágica
39
- Trabalho e temperança
40
- Uma batalha sangrenta
41
- Sorte dos jovens que abandonam o Oratório
42
- Os corvos e os meninos
43
- A inocência
44
- Os mártires de Turim
45
- O sonho do personagem dos dez diamantes
46
- A ovelha fiel e as desertoras
47
- Uma árvore prodigiosa
48
- A Patagônia
INTRODUÇÃO
Ao iniciar este trabalho da arte de
"aprender" ensinando, suscitou em minha alma o grande desejo de
registrar as fontes imaginárias deixadas pelo nosso Pai e Mestre. Que no
momento só se encontra grande quantidade em outros idiomas, privando muitos
jovens de Ter acesso as estes magníficos desafios de vida.
Observando a vida de Dom Bosco, se
percebe que o transcendente usou e abusou da sua pessoa através dos sonhos, só
assim ele educou os seus e enfrentou problemas surpresas agradáveis e
desagradáveis, de um modo muito tranqüilo e eficaz.
O mérito deste trabalho não é só da
minha pessoa e sim os jovens noviços 2001, que foram leais aos princípios, assim comprovamos e aprovamos, que valeu a
pena acreditar, que na realidade construímos este trabalho de tradução dos
Sonhos de Dom Bosoco, pouco a pouco. O meu muito obrigado a cada um de vocês
que foram os meios da realidade deste.
E concluo esta introdução convencido de
que: os Sonhos de Dom Bosco foi, é e sempre será o recurso dos sábios
salesianos para falar aos simples e o recurso dos simples salesianos, e para
falar como sábios, e para falar como sábios.
Então vamos nessa! Seja Dom Bosco hoje
sendo reflexo das entrelinhas de seus sonhos.
1 - O SONHO DAS QUATORZE MESAS - (M.B. VI, 708 - 709)
Encontravam-se todos os meus jovens num
lugar agradável como o mais bonito dos jardins, sentados às mesas que partindo
do chão. Subindo em degraus se levantavam tanto que quase não se via a
sumidade. As longas mesas eram catorze colocadas sem semicírculo e divididas em
três degraus.
No chão ao redor de uma mesa desprovida
de todo enfeite e sem talheres, via se um grupo de jovens. Eram tristes, comiam
sem animação e tinham diante de si um pão mal preparado, porém todo ele seco, e
sujo que fazia nojo. O pão na mesa estava em meio a sujeira e frutas
estragadas. Aqueles coitados se encontravam como animais comendo num chiqueiro.
Eu queria dizer-lhes que jogassem fora tudo aquilo, todavia não agüentei de
pedir-lhes porque tivessem diante de si aquela comida nojenta. Responderam-me,
- Devemos comer o pão que nós mesmos nos preparamos e não temos outro.
Era a situação de pecado mortal.
Diz o livro dos provérbios no capítulo
I, "Odiaram a disciplina e não seguiram o temor do Senhor, e não prestaram
ouvidos aos meus conselhos e não fizeram
caso das minhas correções. Ouviram portanto os frutos das suas obras e
se saciarão com os seus conselhos!".
Mas a medida que as mesas subiam, os
jovens eram mais alegres e comiam pão bem mais caprichado. Eram bonitos; e a
medida, que subia, os jovens eram cada vez mais alegres e bonitos. As mesas
eram muito bem enfeitadas, com bolhas bem trabalhadas, com castiçais, taça
vasos de flores esplendidas, pratos com iguarias finas e talheres de metais
preciosos. O número destes jovens era grandíssimo.
Era a situação dos pecadores
arrependidos e convertidos.
Finalmente as ultimas mesas nos topos
tinham um pão que não consigo descrever. Parecia amarelo, parecia vermelho, e a
mesma cor do pão era o das roupas e da cara dos que jovens, que resplandeciam
com uma luz muito intensa. Estes aproveitavam de uma alegria extraordinária e
cada um procurava transmitir aos outros colegas. Sua beleza luz e esplendor das
mesas superavam de muito todas as outras.
Era a situação de inocência.
Aos inocentes e dos convertidos diz o
Espirito Santo no livro dos Provérbios no Cap.: 1º. "Quem me ouve, terá
repouso sem medo e viverá na abundância, livre do medo dos pecados!".
2
- O SONHO DOS PÃES - (M.B. V, 723 -724)
Uma noite D. Bosco contou que vira em
sonho todos nós distribuindo em quatro grupos distintos e que estavam comendo.
Os jovens de cada grupo tinham na mão um pão diferente. Os primeiros um
fresquidão, fino, muito saboroso, s segundos, um pão branco comum, o terceiro
um pão preto e finalmente os últimos um pão amofado e bichado. Os primeiros
eram os inocentes, os segundos os bons, os terceiros, os que se achavam
atualmente na desgraça da inimizade com Deus mas não encardidas no pecado o
ultimo grupo aqueles que agarrados ao pecado não faziam esforço algum para
mudar de vida.
D. Bosco dado a explicação da causa e
dos efeitos destes alimentos, afirmou, lembrar claramente o pão que cada um de
nós estava comendo e se o tivéssemos procurado, ele ter-no-lo-ia dito.
3 – A MARMOTA (1889) - (M.B. VI, 301).
Uma das primeiras conversas que ouvi a
Dom Bosco (1859) foi sobre a freqüência dos Sacramentos. Esta, em geral, não
estava todavia bem organizado entre os jovens recém-chegados se suas casas. Ele
contou um sonho. Pareceu-lhe achar-se perto da porta do Oratório, e observando
os jovens a medida que eu iam regressando.
Via o estado da alma em que cada um se
achava aos olhos de Deus.
Quando eis que entrou no pátio um homem
que levava uma pequena caixinha. Se meteu entre os jovens. Chegou a hora das
confissões e o homem, abriu a caixinha, puxou uma pequena marmotinha e a fazia
bailar. Os jovens em vez de entrar na Igreja formaram círculo ao seu redor,
rindo, e aplaudindo seus trejeitos, entretanto o tal se ia retirando cada vez
mais fazia o lado do pátio mais distante do da Igreja.
Dom Bosco descreveu no primeiro término,
sem nomear a nada, o estado da consciência de alguns jovens; depois pôs de
relevo os esforços e insídias empreendidas pelo demônio para distrai-los e
afastá-los da confissão.
Falando daquele animalzinho, fez rir
muito o seu auditório, mas também lhe obrigou a refletir seriamente sobre as
coisas da alma. Tanto mais quanto que, depois, manifestava privadamente aos que
se o pediam o que eles acreditavam que nada sabia. E quanto a Dom Bosco dizia e
manifestava era certo. Este sonho convida a maior parte dos jovens a
confessar-se com freqüência, geralmente a cada semana, chegando a ser as
comunhões muito numerosas".
Observações:
O Biógrafo usa como fonte de sua
narração a "um velho amigo daqueles tempos".
4 - O SONHO DAS CONSCIÊNCIAS
ALMAS ACORRENTADAS
Em sonho, apareceu a Dom Bosco
encontrar-se na estrada que dos Becchi
conduzia a um campo de sua propriedade, perto de Capriglio.
No caminho encontrou um desconhecido que
o acompanhou, sem todavia revelar seu nome. Passando ao lado de figueiras e
depois perto de vinhedos, o desconhecido convidou instantemente Dom Bosco a
provar de algum fruto, mas este se recusou.
Chegados finalmente ao campo para onde
Dom Bosco se dirigia, o indivíduo que o acompanhava dirigiu-lhe uma estranha
pergunta:
_ quer ver seus meninos tais quais são
no momento presente? Como serão no futuro? Quer contá-los?
Oh, sim!
_ venha, então.
LENTE MISTERIOSA
"Então- Dom Bosco- tirou , não sei
de onde, uma grande máquina, que eu não saberia descrever, e a fincou no chão. Dentro dela, havia
uma roda, grande também.
- que
significa essa roda?- perguntei.
Respondeu:
A eternidade nas mãos de Deus!- e, segurando
a manivela e dê uma volta.
Fiz o
que me mandou; acrescentou:
Olhe agora lá dentro.
Observei
a máquina e vi que havia nela uma lente enorme, de aproximadamente metro
e meio de diâmetro. Encontrava-se no meio da máquina, fixa na roda. Olhei logo através da lente. Que espetáculo! Vi todos os
jovens do oratório.
"como é isto possível ?" dizia comigo mesmo. "até hoje, não via ninguém por estas bandas,
e agora
estou vendo todos os meus filhos!
Mas eles não estão em Turim?"
Olhei por cima e aos lados da máquina, porém, a não ser pela
lente, não via ninguém. Levantei o rosto para mostrar minha admiração àquele
amigo, mas, depois de alguns instantes, ele me ordenou dar uma outra volta na
manivela: via então que se afetara uma estranha e singular separação entre os
jovens. Os bons estavam separados dos maus. Os primeiros estavam radiosos de
alegria . o segundos, que felizmente não
eram muitos, inspiravam compaixão. Reconheci-os todos . mas como eram diferentes
do que deles pensavam deles os companheiros !...
Uns tinham a língua furada; outros, os
olhos revirados de modo a causar dó; outros sofriam de dores de cabeças por
causa de úlceras repugnantes; outros tinham coração roído de vermes...mas
olhava para eles, mas crescia minha aflição. Repetia:
Mas será possível que estes sejam os
meus filhos? Não compreendendo o que possam significar essas estranhas doenças
.
A estas palavras, aquele que me tinha
conduzido à roda me disse:
0escute : a língua significa as más conversas; os olhos
vesgos são aqueles que interpretam e apreciam totalmente as graças de Deus,
preferindo a terra ao céu; a cabeça
doente é o descuido dos seus conselhos,
a satisfação dos próprios
caprichos; os vermes são as paixões desregradas que roem o coração ; há também
os surdos que não querem ouvir as palavras , para não Ter que pô-las em
prática.
JOVENS ACORRENTADOS
Fez-me depois um sinal e eu, dando uma
terceira volta na roda, apliquei a vista na lente do aparelho. Havia quatro
jovens presos com fortes correntes. Observei-os atentamente e reconheci -
os todos. Pedi explicação ao
desconhecido, que me disse:
é fácil compreender: são aqueles que não
ouvem seus conselhos e não mudam de vida; estão em perigo de perder-se.
Mandou-me dar outra volta. Obedeci e pus-me
novamente a observar. Via-se outros sete jovens, reservados , com ar
desconfiado, trazendo na boca um cadeado
fechava os lábios.
Três deles tapavam as orelhas com a mão admirado e entristecido, perguntei o
motivo do cadeado que fechava os lábios
daqueles tais. Ele me respondeu:
Então não entende? Estes são os que
calam.
Mas calam o quê?
Compreendi então o que significava:
calam na confissão; mesmo se interrogados pelo confessor não respondem ou
respondem com evasivas.
O amigo continuo:
Está vendo aqueles três que , além do
cadeado na boca, tapam com as mãos os ouvidos? Como é deplorável sua condição ?
são os que não somente calam na confissão, mas também não querem de nenhum modo
ouvir os conselhos, as ordens do confessor. São os que ouviram suas palavras ,
mas não a escutaram, não lhe deram importância poderiam abaixar as mãos , mas
não o querem fazer. Os outros quatros escutaram suas exortações e suas
recomendações , mas não souberam aproveitar-se delas.
Que devem fazer para se verem livres
daquele cadeado?
Ejiciatur superbia e cordibus eorum.(
expulse-se de seus corações a soberba )
Hei de avisar a todos eles. Mas para
aqueles que tapam os ouvidos com a mão há pouca esperança.
O APERTO FATAL
O personagem me fez dar mas uma volta na
roda. Olhei e vi mas três jovens numa situação desesperadora. Cada um deles
tinha um pavoroso macaco sobre os ombros. Observei atentamente tinham chifres.
Simbolizam os jovem que mesmo dos exercícios ainda não são amigos de nosso
senhor. O pecado e as paixões os escravizam.
Com o coração opresso por uma indizível
comoção , com lagrimas nos olhos, voltei - me para o amigo e lhe disse:
como é possível ? estão em semelhante
estado esses pobres jovens com os quais despendi tantas palavras, cerquei de
cuidados, tanto na confissão como fora dela?
Perguntei o que eles deviam fazer para
sacudir dos ombros aquele monstro horroroso.
Disse-me ele:
Labor, sudor, fervor.
Compreendi materialmente as palavras-
respondi- mas é preciso que me dê a explicação
Trabalho na assiduidade das obras : suor
na penitência; fervor nas orações fervorosas e perseverante.
Entretanto eu olhava e me afligia
pensando: " como é isso? Será possível?! Mesmo depois dos exercícios
espirituais?!... aqueles ali...depois de tudo o que fiz por eles, depois de
tanto trabalho...depois de Tantos
conselhos ...e tantas promessas !...Ter avisados tantas vezes...não esperava mesmo esta decepção”. Não conseguia
tranqüilizar-me.
CEM POR UM
consola-se , porém- replicou aquele
homem , ao ver o meu abatimento; fez-me dar outra volta na roda e acrescentou:
veja como Deus é generoso! Olha quantas
almas lhe quer entregar! Está vendo aquela multidão de jovens?
Voltei a olhar pela lente e vi uma
multidão que jamais conhecera na minha vida.
sim estou vendo- respondi - mas não os
conheço.
Pois bem aqueles são os que nosso senhor
lhe vai dar, em compensação pelos que não correspondem aos seus cuidados.
Fiquei sabendo que para cada um destes últimos ele vai lhe dar cem.
Ah! Pobre de mim! - exclamei- a casa já
está cheia. Onde porei estes novos jovens?
Não se aflija aquele que lhes envia sabe
muito bem onde os irá colocar. Ele mesmo
encontrará os lugares.
Se é assim , estou contentíssimo -
respondi- consolado.
Observando ainda por muito tempo e cheio
de complacência todos aqueles jovens , retive a fisionomia de muitos. Saberia
reconhecê-los, se por acaso os
encontrasse ."
5 - S - O - S: UMA JANGADA, UM
CONVITE AO CÉU
Sonhei que todos os meninos do oratório
estavam brincando alegremente num campo muito extenso. Eis que, de repente, dos
confins daquela planície, as águas de uma inundação começaram a crescer para
nós, rodeando de todos os lados. O rio PÓ tinha transbordado de sua margens
rolavam torrentes que se avolumavam impetuosas. Apavorados, fugimos todos para
um grande moinho que se via ao longe, afastado das demais habitações.
Protegia-o uma muralha espessa como a de uma fortaleza; eu me detive no pátio
interno, no meio dos meus alunos consternados. Mas, como as águas começassem a
subir, fomos obrigados a refugiar-nos dentro de casa e a subir depois para o
andar superior. Olhando pelas janelas, via-se toda a extensão do desastre. Da
colina de Superga até aos Alpes, em vez de prados, campos cultivados, hortas,
bosques, casas, aldeias e cidades, nada mais se via do que a superfície de um
lago imenso. À medida que as águas subiam, íamos galgando o andar superior.
Perdida enfim toda esperança humana, comecei a animar meus jovens, dizendo-lhes
que se colocassem todos, com absoluta confiança, nas mãos de Deus e se
abandonassem nos braços de Nossa Senhora, nossa mãe querida.
Aparece a jangada
Mas a água já tinha chegado quase ao
nível do último andar. O pavor foi geral. Não víamos outro recurso senão
recolhermo-nos a uma enorme jangada em forma de navio que naquele instante
apareceu flutuando junto de nós. Com a respiração ofegante, cada um queria ser
o primeiro a refugiar-se naquela embarcação. Ninguém, porém ousava fazê-lo
porque não era possível aproximar-se a barca da casa: uma parede emergia um pouco mais acima do
nível das águas. Para passar havia apenas um tronco de árvore, comprido e
estreito. Arriscar-se era difícil e perigoso, porque aquele tronco tinha uma
extremidade apoiada na embarcação e movia-se, acompanhado de oscilações
provocadas pelas ondas.
Cobrando coragem, fui o primeiro a
passar. Depois, para facilitar a passagem dos meninos, e para que se sentissem
mais seguros, determinei que alguns clérigos e padres, do lado do moinho,
ajudassem os que partiam, e outros, na jangada, dessem a mão aos que chegavam.
Mas era curioso! Passado pouco tempo, clérigos e padres se sentiam-se tão
esgotados que ora um, ora outro, estavam a ponto de desfalecer; o mesmo
acontecia com os que substituíam. Muito admirado, quis eu mesmo fazer a
experiência: fiquei tão logo extenuado que não conseguia permanecer de pé.
Entretanto, muitos jovens, impacientes,
seja pelo temor de morte, seja pelo desejo de parecerem corajosos, tendo
encontrado uma tábua bastante comprida e um pouco mais larga que o tronco,
improvisaram uma segunda ponte e, sem esperar o auxílio dos clérigos e dos
padres, atiraram-se a ela. Não queriam ouvir os meus gritos aflitos.
"Parem, parem, vocês vão
cair!", gritava eu. Aconteceu o que eu temia, porque muitos, ao serem
empurrados ou por perderem o equilíbrio, antes de alcançar a embarcação, caíram
e foram tragados por aquelas águas turvas e pútridas. Desapareceram. Aquela
frágil ponte afundou também, arrastando consigo os que sobre ela estavam. Era
tão grande o número desses infelizes, que uma quarta parte dos nossos jovens
pereceram vítimas de seu capricho.
Até então, eu estivera segurando a
extremidade do tronco, enquanto os meninos passavam; foi quando percebi que a
inundação já ultrapassava aquela parede e pude conduzir a embarcação até o
moinho. Encontrava-se lá o padre Cagliero que, colocando um pé no peitoril da
janela e o outro na beirada da barca, foi dando a mão aos meninos que estavam
naquele quarto e fazendo-os passar par o lugar seguro, na jangada.
Quando já se achavam todos na
embarcação, mas incertos ainda de escapar àquele perigo, assumi o comando e
disse aos jovens:
"Nossa Senhora é a Estrela do mar.
Não abandona quem nela confia: vamos nos colocar sob o seu manto; Ela nos há de
livrar dos perigos e nos conduzirá a um porto seguro."
Navegando
Abandonamos então a nau ao sabor das
ondas e, flutuando mansamente, ela se afastou daquele lugar. Mas o ímpeto do
vento impelia-a com tal velocidade, que
nos abraçamos uns aos outros, formando um só corpo, para não cair. Tendo
percorrido uma grande distância em tempo reduzíssimo, a barca pôs-se a girar em
torno de si mesma, com extraordinária rapidez, de tal forma de tal forma que
pensamos que fosse afundar. Um vento fortíssimo, porém, arrancou-a daquele
redemoinho. Voltou a vogar normalmente e quando, ocasionalmente, se repetia o
redemoinho, o vento salvador a impelia, até que foi parar perto de uma
ribanceira enxuta, bonita, ampla, que parecia brotar como uma colina no meio do
mar.
Muitos jovens ficaram encantados; diziam que Deus colocara o homem
sobre a terra e não sobre as águas e, sem pedir licença a ninguém, deixaram a
barca e subiram pela rampa, convidando ainda os outros a segui-los. A alegria
durou pouco. Avolumaram-se as águas, por um rápido recrudescer da tempestade,
invadiram as fraldas daquela ribanceira, subiram rapidamente, atingindo aqueles
infelizes que soltavam gritos de desespero ao sentirem-se mergulhados até a
cintura. Em breve desapareciam, tragados pelas ondas. Então exclamei:
"É bem verdade que aquele que quer
seguir sua própria cabeça paga com a própria bolsa."
A nau, entretanto , como um joguete
abandonado à fúria da tempestade, a cada momento parecia ir ao fundo. Notei que
os meus jovens estavam pálidos e ofegantes. "Coragem! - gritei-lhes -
Nossa Senhora não nos há de abandonar." Então, todos juntos, rezamos com
fervor os atos de fé, de esperança, de caridade e de contrição; rezamos alguns
Pai-nossos e ave-marias e uma salve rainha; em seguida, de joelhos,
segurando-nos pelas mãos, cada um rezou outras orações em particular.
Entretanto, alguns insensatos, indiferentes ao perigo, como se nada o
ameaçasse, de pé, andando de um lado para outro, levavam a coisa em gozação,
rindo em atitude suplicante de seus companheiros. Mas eis que, de repente, a
embarcação pára gira sobre si mesma com incrível rapidez, ao mesmo tempo um
vento furioso atira nas ondas aqueles infelizes. Eram trinta. Como as águas
fossem profundas e lamacentas, mal mergulharam, desapareceram para sempre. Nós
entretanto, entoamos uma salve rainha e nunca como então invocamos a Estrela do
Mar.
Os náufragos são salvos
Sobreveio a calma. Mas a embarcação,
como se fora um peixe, continuava a deslizar, sem que pudéssemos saber aonde
nos levava. Um variado trabalho de salvamento continuava todavia. Fazia-se de
tudo para impedir que os jovens caíssem nas águas e para delas retirar ao que
tombavam. É que sempre haviam alguns que se inclinavam demasiado sobre o
parapeito baixo da jangada e caíam no lago. Havia também alguns descarados e
maldosos que, atraindo os companheiros, empurravam-nos para fazê-los cair na
água. Em vista disso, vários sacerdotes preparavam varas resistentes, linhas
grossa e anzóis, distribuindo este material entre si; já alguns estavam a
postos, com varas erguidas e os olhos fixos nas ondas, atentos aos gritos de
socorro. Apenas caía um jovem, as varas se abaixavam e o náufrago se agarrava à
linha, ou melhor, prendia o anzol na cinta ou nas roupas e era assim posto a
salvo. Quanto a mim, encontrava-me ao pé de um alto estandarte, fincado no
centro da nau; cercavam-me muitíssimos jovens, padres e clérigos, todos sob
minhas ordens. Enquanto permaneciam dóceis, obedecendo ao que eu dizia, tudo ia
bem. Mas eis que alguns começaram a achar incômoda aquela jangada, a recear a
viagem, demasiado longa, a lamentar-se dos transtornos e perigos daquela
travessia, a discutir sobre o lugar em que haveríamos de aportar, a pensar de
que modo poderíamos encontrar outro refúgio, a iludir-se com a esperança de que
não muito longe haveria terra onde encontrar um abrigo seguro; enfim, receavam
que viessem em breve a faltar os víveres, discutiam entre si, recusavam-se a
obedecer. Em vão procurava eu dissuadi-los, empregando as melhores razões.
Eis senão quando aparecem outras
embarcações; ao se aproximarem, notamos que tomavam outra direção. Ao vê-las,
aqueles jovens imprudentes deliberaram seguir os seus próprios caprichos,
afastando-se de mim e governando-se por si mesmos. Lançaram às águas algumas
tábuas que estavam na nossa jangada e, avistando outras bem compridas que
flutuavam a pouca distância, saltaram para elas, afastando-se em direção às
embarcações avistadas. Para mim a cena foi extremamente dolorosa; via aqueles
infelizes correrem para a própria ruína. Soprava o vento, o mar se encapelava:
alguns foram logo ao fundo, tragados pelas ondas furiosas; outros iam de
encontro a obstáculos que surgiam á flor das águas e submergiam; alguns
conseguiram subir às embarcações que, entretanto, não tardaram a serem tragadas
pelo abismo. A noite desceu tenebrosa; ouviram-se ao longe os gritos
desesperados daqueles que pereciam. Naufragaram todos. In mare mundi
submergentur omnes illis quos non suscipit navis ista (no mar do mundo,
naufragarão todos aqueles que não forem recolhidos por esta nau), isto é, a Nau
de Maria Santíssima.
O terrível estreito
O número dos meus queridos filhos tinha
diminuído muito; não obstante isto, continuando a confiar em Nossa Senhora,
depois de uma noite inteira passada nas trevas, a nave entrou por um estreito
muito apertado, de margens lamacentas onde, em meio a tufos de verduras,
viam-se pedras lascadas, paus, ramos quebrados, restos de pranchas e antenas,
ramos, escondendo animais repugnantes.
Foi ali que vimos, com horror e espanto,
os pobres companheiros, perdidos ou que tinham desertado da nossa companhia.
Depois de haverem naufragado, tinham sido arremessados pelas ondas àquela
praia.
Uma fonte salutar
Então apontei a todos uma fonte da qual
jorrava com abundância água fresca e ferruginosa; todo aquele que nela ia
banhar-se voltava curado e podia voltar para a barca. A maior parte daqueles
infelizes obedeceram ao meu convite; alguns, porém, recusaram-se. Eu então,
para cortar as delongas, voltei-me para os que se tinham restabelecido e instei
para que me seguissem. Obedeceram resolutamente, retirando-se os monstros.
Apenas pusemos os pés na jangada, um vento forte impediu-a para a outra
extremidade do estreito e vimo-nos novamente em meio a um oceano sem
horizontes.
Lastimando a triste sorte e o fim
lastimável dos nossos companheiros abandonados naquele horrendo lugar,
começamos a cantar: "Louvemos Maria, Rainha gloriosa." Fizemo-lo em
agradecimento à nossa querida Mãe do Céu, por nos Ter então protegido; no mesmo
instante, a uma ordem dela, cessou a fúria do vento e a nau começou a deslizar
sobre as águas plácidas, com incrível facilidade. Dir-se-ia que, para mover-se,
bastava o ligeiro impulso que lhe davam os jovens, brincando de remar com as
mãos.
Mas eis que aparece no céu um arco-íris
mais belo e de forma mais variada do que a aurora boreal. Passamos sobre ele e
podemos ler a palavra MEDOUM, escrita com grande letra, e cujo significado não
chegamos a compreender. Pareceu-me, entretanto, que cada letra fosse a inicial
das seguintes palavras: Mater Et Domina Omnis Universi Maria ( Mãe e Senhora de
todo o universo é Maria).
Depois de um longo trecho de viagem, eis
que no horizonte distante avistamos uma nesga de terra. À medida que nos
aproximávamos, batia-nos o coração de incontida alegria. Era uma terra
encantadora, coberta de bosques com toda qualidade de árvores. Parecia-nos
ainda mais sedutora porque ia sendo iluminada pelo sol que nascia por detrás
das colinas. Era uma luz que brilhava suave e penetrante, deixando uma
impressão de repouso e de paz.
Afinal, depois de ter deslizado sobre a
praia, a jangada parou em lugar enxuto, defronte de um vinhedo lindíssimo. Era
enorme o desejo dos jovens de penetrar por aquele vinhedo. Alguns, mais afoitos
e curiosos, de um salto estavam na praia. Mas tinham apenas dado alguns passos
quando, recordando-se da sorte infeliz dos que se haviam encantado com a
ribanceira encontrada no meio do oceano, voltaram apressados para a barca.
Todos os olhos estavam voltados para mim
e podia-se ler na fronte de todos a pergunta:
"Dom Bosco, já é tempo de descer e
ficar aqui ?"
Refleti um pouco e depois disse-lhes:
"Vamos descer: é o momento certo: agora estamos seguros!"
Foi um grito unânime de alegria!
Esfregando as mãos de contente, entraram todos no vinhedo, todo ele plantado
com esmero. Dos ramos pendiam cachos de uvas semelhantes aos da terra da
promissão; os galhos das árvores ofereciam toda qualidade de fruta, cujo sabor
excedia tudo o que se possa imaginar. Bem no meio do vinhedo eleva-se um
castelo rodeado por lindíssimo jardim e protegido por uma alta muralha.
Dirigimos para lá nossos passos,
desejosos de visitá-lo, e tivemos franqueada a entrada. Estávamos cansados, com
fome, e eis que deparamos com uma grande sala, ornamentada de ouro fino, tendo
no centro uma mesa coberta das mais finas iguarias. Cada um pode servir-se
livremente. Acabávamos a refeição, quando entrou na sala um jovem de aparência
nobre, vestido ricamente. Era extraordinariamente belo. Com maneiras afetuosas,
tratou-nos familiarmente, chamando cada um pelo próprio nome. Percebendo que
estávamos maravilhados com sua beleza e com tudo mais que tínhamos visto, explicou:
"Isto ainda não é nada; venham ver."
O maravilhoso castelo
Seguimos-lhe os passo e, dos balcões,
fez-nos contemplar os jardins, dizendo que estavam a nossa disposição, para
nossas recreações. Conduziu-nos depois de sala em sala, cada qual mais bonita,
pela arquitetura, colunatas e ornatos de toda espécie. Abrindo depois uma porta
que dava para a capela, convidou-nos a entrar. Por fora, a capela parecia
pequena, mas, apenas transpusemo-lhe os umbrais, percebemos que era tão extensa
que mal se podia ver quem estivesse na outra extremidade. O pavimento, as
paredes, as abóbadas eram ornamentadas e enriquecidas com arte admirável. Por
toda parte mármores finos, ouro prata, pedras preciosas. Maravilhado, exclamei:
"Mas isto é uma beleza paradisíaca: proponho que fiquemos aqui para
sempre!"
No meio do templo, sobre rico pedestal,
estava uma magnífica imagem de Nossa Senhora Auxiliadora. Chamei então os
meninos, que estavam espalhados contemplando todo aquela beleza, e nos reunimos
todos (uma multidão) diante daquela imagem para agradecer a Nossa Senhora
tantos favores que nos concedera. De repente ela apareceu animar-se, sorriu. Um
frêmito de comoção perpassou pela multidão: "Nossa Senhora move os
olhos!", exclamaram alguns. Era verdade: Maria Santíssima, com inefável
bondade, volvia os olhos maternos para aqueles jovens. Pouco depois, outro
brado escapou do peito de todos: "Nossa Senhora move as mãos!".
Realmente, com gesto lento, Ela ia abrindo os braços, estendendo o manto, como
se quisesse recolher todos sob ele. Era tão grande a comoção, que lágrimas
corriam pelas nossas faces. "Nossa Senhora move os lábios!"
exclamaram alguns. Segui-se um silêncio profundo. A mãe de Deus, abrindo a
boca, com voz argentina, suavíssima, dizia-nos:
"Se vocês forem para mim filhos
devotos, eu serei para vocês Mãe Piedosa."
A estas palavras caímos todos de
joelhos, entoando o canto: "Louvemos Maria, Rainha gloriosa."
Esta harmonia era ao mesmo tempo tão
forte e suave que, vencido por ela, despertei. Terminou assim a visão.
Pontos para reflexão e discussão
"Coragem, Nossa Senhora não nos
abandonará." O que Nossa Senhora é para nós? Uma medalhinha que dá sorte?
Uma estatueta muito meiga que, afinal, não nos diz nada? Ou é "nossa
Mãe", que devemos invocar nos momentos de perigo, à qual devemos sempre
rezar, que é preciso sempre amar como Mãe de Jesus e nossa Mãe?
6 - PRESENTE PARA NOSSA SENHORA
No dia 27 de abril de 1865 foi lançada a
primeira pedra no templo de Nossa Senhora Auxiliadora. Estavam presentes o
Governador, o Prefeito e o príncipe Amadeu de Sabóia, duque de Aosta. No correr
daquele ano, a construção chegou ao teto; faltava só cúpula.
No dia 30 de maio Dom Bosco contou
um sonho.
Pareceu-lhe ver um monumental altar
dedicado a Virgem Maria, estava ricamente ornamentado e os meninos para ele se
dirigiam em piedosa procissão. Cantavam louvores à celeste Soberana mas não se
podia dizer que cantassem bem, obedecendo ao compasso e à tonalidade: uns
cantavam com vozes desafinadas e roucas; outros saíam do compasso; alguns erravam
ou estavam de boca fechada Havia os que pareciam aborrecidos, os que cutucavam
os companheiros e riam. Todos levavam um presente para oferecer a Nossa
Senhora; cada um trazia na mão um ramo de flores, uns maiores, outros menores,
diferentes uns dos outros. Este levava um ramo de rosas, aquele, cravos ou
violetas. Outros levavam para a Virgem Maria presentes esquisitos: uma cabeça
de porco, um gato, um prato com sapos, uma carneiro, um coelho. Um belo jovem
com asas estava diante do altar: Era talvez o Anjo da Guarda do Oratório. À
medida que os jovens traziam seus presentes, o Anjo o recebia para colocá-los
sobre o altar. Fez assim com as magníficas flores recebidas; mas quando outros
jovens apresentaram seus ramalhetes, o Anjo observou-os um a um, retirando
alguma flor murcha, que punha de lado.
De alguns ramalhetes, compostos de belas
flores mas sem perfume - como dálias e camélias - o Anjo tirou estas corolas
porque Nossa Senhora gosta da realidade e não das aparências. Muitos jovens
traziam flores com espinhos e também de mistura com pregos; o Anjo tirava tudo
isso dos ramos, antes de colocá-los no altar.
Chegou o que trazia a cabeça de porco;
apenas o viu, disse o Anjo:
Como é que você tem a coragem de
oferecer a Nossa Senhora esse nojento presente? Não sabe que o porco é o
símbolo da impureza? A Virgem Maria é toda tão pura, não pode suportar esse
pecado. Retire-se, porque não é digno de estar na sua presença.
O Anjo recriminou também o que vinha
oferecer o gato, porque representa o pecado. Repreendeu igualmente o que trazia
sapos, porque simbolizam os vergonhosos pecados de escândalo.
Alguns jovens se apresentaram como um
punhal fincados no coração; como o punhal significava sacrilégios, disse-lhes o
Anjo em tom de reprovação:
Então não vêem que as almas de vocês
estão mortas para a graça? Se ainda estão em vida, é somente pela infinita
bondade de Deus; do contrário, já estariam condenados. Por favor, procurem
arrancar depressa esse punhal! - Também estes últimos foram rejeitados.
Pouco a pouco, foram chegando os outros
jovens para oferecer carneiros, coelhos, peixes, nozes, uvas e outras frutas. O
Anjo aceitou tudo isso e colocou sob a mesa. Depois de ter dividido os jovens,
separando os bons dos maus, fez desfilar
diante do altar todos aqueles cujos presentes tinham agradado Nossa
Senhora. Dom Bosco notou, porém, com mágoa, que os rejeitados eram mais
numerosos.
De um lado e do outro do altar
apareceram então Anjos trazendo duas ricas bandejas com coroas tecidas de
lindas rosas. Eram coroas imarcescíveis, porque símbolo de eternidade.
O Anjo da Guardo do Oratório tomou uma
por uma aquelas coroas, para cingir as frontes dos jovens que circundavam o
altar. Tinham diferentes tamanhos, mas eram todas extraordinariamente belas.
Deve-se notar, - observou Dom Bosco -
que, diante do altar , não estavam apenas os jovens que atualmente moram no
Oratório; havia outros que eu nunca tinha visto antes. Fui depois testemunha de
fenômeno surpreendente: vi que havia jovens com fisionomia grosseira e
desagradável; pois a estes foram dadas as coroas mais belas porque, ao seu
exterior pouco atraente, supria a virtude da castidade que possuíam em grau
eminente. Muitos outros distinguiam-se por outras virtudes, como a obediência,
a humildade, o amor de Deus; todos, na proporção da eminência de tais virtudes,
recebiam coroas condizentes com seus méritos. Disse depois o Anjo:
Nossa Senhora quis que vocês fossem hoje
coroados de tão belas rosas. Lembrem-se de continuar a viver de modo que elas
nunca lhes sejam arrebatadas. Para conservá-las, devem praticar a humildade, a
obediência e a castidade: são três virtudes que os tornarão muito agradáveis a
Nossa Senhora e dignos de uma coroa infinitamente mais bela do que a recebida
hoje.
Os jovens entoaram então o "Ave,
maris stella" diante do altar. Depois da primeira estrofe cantaram o
"Louvando Maria". Suas vozes eram tão fortes, que Dom Bosco ficou
admirado. Acompanhou-os por algum tempo. Depois voltou-se para ver os jovens
que o Anjo tinha posto de lado; não mais os viu.
Vou fazer agora - disse Dom Bosco -
algumas observações. Todos levavam à Virgem Maria flores variadas, no meio das
quais haviam espinhos símbolo da desobediência. Alguns tinham pregos, que
serviram para crucificar o Salvador. Muitas flores estavam murchas ou não tinham
perfume; simbolizavam obras boas mas feitas por vaidade. Vi o que aconteceu e
acontecerá aos meus meninos. Entretanto vocês que me ouvem vejam de oferecer a
Nossa Senhora presentes que realmente lhe agradam.
7 - VINTE E DUAS LUAS
Naquela tarde de domingo, março de 1854,
Dom Bosco reuniu todos os seus meninos do Oratório para narrar-lhes um sonho
muito importante.
"Parecia-me estar com vocês no
pátio - começou a dizer em meio a profundo silêncio - e gozava no meu coração
por ver que todos estavam alegres e contentes. Quem saltava, quem gritava, quem
corria. De repente vi um de vocês sair por uma porta e se pôr a passear no meio
dos companheiros com uma espécie de turbante na cabeça. Era um turbante
esquisito, todo iluminado por dentro, com uma grande lua desenhada, bem no meio
da qual estava escrito o número 22. Admirado, aproximei-me dele para convidá-lo
a tirar aquele enfeite carnavalesco. Na mesma hora, porém, escurece e, como se
o sino tivesse tocado, o pátio se esvazia e vejo todos os meninos em fila, sob
os pórticos. Pareciam amedrontados; dez ou doze tinham o resto estranhamente
pálido. Entre estes, mais pálido ainda, avisto aquele do turbante. Enquanto
olhava admirado para ele, percebi que alguma coisa lhe pendia os ombros: um véu
fúnebre. Ia ao seu encontro para indagar o que significava tudo aquilo, quando
uma mão me reteve. Vi em desconhecido de feições nobres e graves , que me
disse: "Ouça-me, antes de aproximá-lo; ele tem ainda 22 luas de tempo e,
antes que tenham passado, morrerá. Não o perca de vista e prepare-o!".
Queria pedir-lhe ainda alguma explicação, mas não mais pude vê-lo. Queridos
filhos, aquele jovem está no meio de vocês e eu o conheço…".
Um silencioso arrepio perpassou pela
assembléia: era a primeira vez que Dom Bosco anunciava em público - e com
estranha solenidade - a morte de algum deles. Dom Bosco percebe-o e quis
diminuir a violenta impressão: " Sim eu o conheço - prosseguiu - está
entre vocês aquele da lua. Mas não se assustem! É um sonho, com já disse, e nem
sempre se deve acreditar em sonhos… em todo o caso, foi Nosso Senhor que disse:
'Fiquem sempre preparados porque a morte vem de surpresa , como um ladrão', não
acham?'
Muitos meninos, abalados mudaram de
vida. Muitas vezes a interrogação se levantava diante deles: "E se fosse
eu?", deixando-os ansiosos. Os meninos tinham, entendido que cada lua
significava um mês e iam contando, com um misto de curiosidade e apreensão: -
Faltam quinze… treze… onze…
O ano de 1854 passou; veio o de 1855 e
chegou o mês de outubro: os meninos contavam: - É a vigésima lua… - Faltavam só
dois meses para o encontro marcado para a morte. Um jovem clérigo, Cagliero, no
qual Dom Bosco depositava toda confiança, estava encarregado de assistir três
dormitórios onde dormiam alguns dos seus companheiros, na antiga Casa Pinardi.
Entre eles havia certo Secondo Gurgo, natural de Biella, de 17 anos, um
rapagão. Tocava piano e órgão muito bem, estudava música afinco e ganhava um
bom dinheiro dando lições de piano e órgão na cidade.
Foi justamente em outubro que Dom Bosco
mandou chamar Cagliero:
- Onde está dormindo?
- No último quarto; de lá assisto os
outros dois.
- Não seria melhor que levasse sua cama
para o do meio?
- Como o senhor quiser. Apenas lhe faço
notar que do lugar onde estou agora posso muito bem assistir todos os meninos
dos três dormitórios.
- Sei - replicou Dom Bosco - mas prefiro
que passe para este quarto.
Cagliero pegou o seu colchão e trocou de
lugar. Mas não gostou do novo ambiente e voltou à carga, pedindo a Dom Bosco
para voltar ao quarto antigo. Dom Bosco ouviu-o mas não deixou e ainda lhe
disse:
- Fique quietinho onde está agora.
Passaram-se alguns dias e Cagliero foi
novamente chamado por Dom Bosco:
- Quantos são no novo quarto?
- Somos três: eu, Gurgo e Gavoraglia.
Contando como piano, somos quatro…
- Muito bem , os três são apaixonados
por música e Gurgo poderá dar-lhes lições de piano. Quanto a você, veja de
assisti-lo bem.
Olhou-o intensamente , fixando-o nos
olhos, e nada mais acrescentou. Cagliero ficou cismado e fez a Dom Bosco
algumas perguntas sobre a 20ª lua. Mas Dom Bosco corou logo a conversa,
dizendo-lhe:
- O porquê, você saberá no momento
oportuno.
Nos primeiros dias de dezembro não havia
ninguém doente no Oratório. Uma noite, depois das orações, Dom Bosco anunciou
que um dos presentes morreria antes da festa do Natal. Aproximava-se o fim
das 22 luas e a nova predição vinha apenas confirmar e precedente, feita a
cerca de dois anos antes.
Dom Bosco chamou novamente Cagliero.
Perguntou-lhe se Gurgo se comportava bem, se voltava logo para a casa quando
terminava suas lições na cidade Cagliero
assegurou-lhe que tudo ia otimamente.
- Muito bem - disse Dom Bosco - continue
a vigiar e, se acontecer algo, avise-me logo. - Não acrescentou mais nada.
Chegou-se assim ao dia 15 de dezembro,
quando Gurgo foi acometido por violentas cólicas. A crise foi tão forte que o
médico considerou-o em perigo de vida. Foram administrados os últimos
sacramentos e foi chamado com urgência o pai. Os cuidados do médico,
entretanto, depois de oito dias de real perigo, conseguiram arrancar o jovem à
morte. Gurgo melhorou, pôde até levantar-se; entrou em convalescença. O mal
fora conjurado e o médico dizia o jovem que tinha escapado de uma boa. Todavia
o pai pediu a Dom Bosco para levar o filho para casa, a fim de se restabelecer
mais depressa. Era Domingo, 23 de dezembro, e no dia seguinte Gurgo deveria
partir do Oratório.
Entre os meninos a expectativa era
enorme: dentro de dois dias era Natal… E a profecia de Dom Bosco?
Na tarde daquele Domingo Gurgo quis
comer carne. O pai, querendo satisfazer o filho, foi logo comprá-la. A que
encontrou estava mal assada, mas o menino comeu-a assim mesmo.
Chegou a noite. O pai havia se retirado.
No quarto do convalescente estavam o enfermeiro e Cagliero.
Improvisamente o jovem despertou com
fortíssimas dores no ventre. O mal tinha voltado com extrema violência. Gurgo
chamou seu assistente:
- Cagliero, Cagliero! Acabou-se… Não vou
mais poder dar lições de piano a você…
- Coragem, Gurgo - retrucou Cagliero -
isso também vai passar.
- Não, desta vez, acabou-se… Já não vou
mais para casa… Reze por mim… Se soubesse que dores… reze a Nossa Senhora…
Entretanto o enfermeiro tinha ido chamar
Dom Bosco que dormia num quarto vizinho. Este apressou-se em ir junto do jovem,
presa de violentos espasmos. Poucos instantes depois, Gurgo morreria.
Uma profunda tristeza desceu sobre a
casa naquela vigília de Natal. As duas predições de Dom Bosco ocupavam todas as
conversas dos meninos.
Poucas horas antes que tivesse início a
missa do galo, Dom Bosco subiu os degraus da cátedra e passeou os olhos
entristecidos pelo ambiente, como se quisesse enfaixar com seu amor de pai a
ferida aberta no coração dos filhos. Começou a falar baixo, acalorado:
- É o primeiro jovem - disse - que morre
no Oratório. Fez bem o que tinha de fazer e esperamos que esteja no céu… Mas
recomendo a todos vocês, queridos filhos, que estejam sempre preparados…
Um soluço cortou-lhe a palavra nos
lábios. Nada mais pôde dizer. Desceu da cátedra no meio do silêncio que sobre todos
pesava.
De longe chegavam, rompendo a neblina,
os sons festivos da noite de Natal.
8 - SONHO DAS CONSCIÊNCIAS ( M.B. VI, 817-821)
Mas três noites que precederam o último
dia do ano 1860, D. Bosco fez três sonhos, como ele os chamou, mas que nós com
toda certeza, por aquilo que temos visto, percebido, experimentado, podemos
chamar de celestes visões. Era o mesmo sonho três vezes repetida, mas sempre
com diferentes particularidades. Eis brevemente como o nosso bom pai o
apresentou na última noite do ano de 1860 a todos os jovens reunidos. Assim ele
falou:
Encontrei-me por três noites seguidas
nos Campos de Revolta com D. Cafasso, com Sílvio Péllico e com Conde Cays. Na
primeira noite ficamos conversando sobre certos assuntos de Religião com
relação aos tempos atuais. A segunda a passamos discutindo assuntos morais em
que foram apresentados problemas especialmente sobre educação da juventude.
Vendo que já por duas noites seguidas faziam um mesmo sonho, decidi contá-lo
aos meus filhos, se ainda não tivesse sonhado as mesmas coisas pela terceira
vez. E eis que na noite entre 30 e 31 de dezembro, encontrei-me novamente no
mesmo lugar e com os mesmos personagens. Deixando de lado outros assuntos,
lembrei-me que estávamos no fim do ano e que deveria apresentar aos meus
queridos filhos a lembrança para ano
novo. Por isso falei a D. Cafasso e perguntei-lhe:
- O senhor que é meu grande amigo, me
apresente uma lembrança para os meus filhos?
Ele respondeu:
- Calma! Se você quiser que eu lhe
apresente a lembrança, fale aos seus filhos que se preparem e saldem suas
contas.
Nós estávamos num grande salão, no meio
do qual havia uma mesa. D. Cafasso, Sílvio Péllico e Conde Cays se assentaram.
Eu no entanto obedecendo a D. Cafasso, saí do salão e fui chamar os jovens que
estavam do lado de fora, fazendo cada um suas somas numa ficha que tinham entre
as mãos. Os jovens entravam em fila segurando a ficha, em que estavam anotados
muitos números e se apresentavam aos três senhores e a eles entregavam a
própria ficha. Aqueles senhores a soma e se era bem caprichada e cheia de
números, a devolviam a cada um, porém não aceitavam aquelas que apresentavam
números forjados. Os primeiros eram aqueles que tinham contas em ordem, os
segundos os que estavam desordenado. Não poucos estavam entre estes últimos.
Aqueles que recebiam a sua ficha assinada saiam da sala alegres e iam cantar
sua alegria no pátio; os outros porém saiam tristes e mortificados. A fila de
jovens era comprida todos ficavam esperando. Esta operação foi bem demorada; finalmente
ninguém mais se apresentou. Parecia que todos os jovens se tivessem
apresentado, quando D. Bosco viu alguns que estavam esperando e não entravam.
Perguntou a D. Cafasso:
- Mas estes o que estão fazendo?
- Estes, respondeu D. Cafasso, tem a
ficha em branco, portanto não dá para fazer a soma, aqui trata-se de fazer a
soma daquilo que se possui e o que foi feito. Portanto esses jovens podem ir
preencher suas fichas com números, depois reapareçam para podermos fazer a
soma.
Desta maneira acabou-se aquela operação.
Então, eu com os três senhores saímos
daquela sala para o pátio, e vi, um número de jovens, aqueles cujas fichas eram
corretas e caprichadas, que corriam, que pulavam e brincavam com uma alegria
extraordinária. Estavam todos satisfeitos. Vocês não podem imaginar minha
satisfação vendo este espetáculo.
Mas havia um certo número de jovens que
não brincavam, mas estavam observando os outros. Estes não estavam muitos
alegres. Entres estes alguns tinham uma tira cobrindo os olhos, outros uma
névoa rodeando a cabeça, outros tinham um coração cheio de terra, outros o
tinham vazios das coisas de Deus. Eu os vi e os reconheci muito bem e os tenho
bem presentes na cabeça que poderia dar os nomes um por um.
Também percebi que no pátio faltavam
muitos dos meus jovens e falei para os meus botões: "Onde estão aqueles
que tinham a ficha em branco?". Olho aqui, procuro ali e finalmente vi um
lugar afastado do pátio um espetáculo deprimente! Vejo um deitado no chão,
pálido como a morte. Depois outros sentados num banco imundo, outros deitados
em esteiras sujas, outros no chão, outros sobre pedras que ali havia. Eram
todos os que não haviam suas contas aprovadas. Estavam gravemente doentes;
alguns tinham a língua outros o ouvido,
outros os olhos cheios de vermes que os roíam. Um tinha a língua podre; outro a
boca cheia de terra; um terceiro exalava um fedor insuportável, outros eram as
doenças daqueles coitados. Quem tinha o coração carcomido, quem tinha
horrorosas feridas… havia ali um leproso…
Vendo isso fiquei transtornado, não
conseguindo acreditar naquilo que estava presenciando. Cheguei mais perto de um
daqueles coitados e perguntei-lhe:
- Mas você é mesmo fulano?
- Sim, sou eu mesmo!
- Mas como você chegou a esta horrível
situação?
- O que fazer? Farinha do meu saco!
Veja! Este é o fruto das minhas desordens!
Conversei com um outro e recebi a mesma
proposta. Este espetáculo doía-me dentro, mas foi aliviado em parte pelo que vi
depois.
No entanto de coração comovido dirigi-me
a D. Cafasso e perguntei-lhe:
- A que remédio devo procurar para sarar
estes meus pobres jovens?
- Você sabe muito bem o que deve fazer,
respondeu-me D. Cafasso. Não há necessidade e o repetir. Pensa! Use a
criatividade!
- Pelo menos me apresente uma lembrança
aos bons, insisti eu suplicando humildemente e confiante em meu pedido.
D. Cafasso então fez um sinal para
segui-lo e aproximando-se do prédio abriu uma porta. Entramos num salão
maravilhoso, ornamentado em ouro, em prata e com toda espécie de ornamentação,
iluminada por milhares de lâmpadas… Era
bem amplo. No meio do salão havia uma mesa cheia de doces, dos mais
caprichados e dos mais gostosos, capazes um só de saciar o desejos dos jovens.
Vendo isso, estava saindo para fora para chamar os jovens a entrarem e
contemplarem aquele magnífico espetáculo. Mas D. Cafasso parou-me gritando:
- Calma! Nem todos podem comer estas
delícias. Chame só aqueles que tem suas contas em ordem.
Assim fiz, e em poucos segundos aquele
salão estava cheio de jovens. Então estava eu para começar a distribuir aqueles
doces. Mas D. Cafasso se opõem e…
- Calma, Dom Bosco! Nem todos podem
experimentar estas delícias, nem todos estão dignos!
E indicou-me os que não podiam comer. E
entre estes mostrou em primeiro lugar os que estavam cheios de chagas, que não
se encontravam na sala, porque não tinham suas contas em regras, depois
mostrou-me outros, que apesar de terem contas em regras, tinham porém ou
neblina nos olhos ou o coração cheio de terra, ou vazio das coisas do céu.
Mas eu com ar suplicante falei-lhe:
- D. Cafasso! Deixe que eu dê também a
esses últimos; também eles são meus filhos, tanto mais que há muita fartura e
não há perigo que falte.
- Não, não - falou ele. Só aqueles que
têm boca sadia podem comer, os outros não; não sabem aproveitar, não estão dignos
destas delícias, porque tem a boca estragada e cheia de amargura, as coisas
doces dão enjôo e não podem comer.
Fiquei quieto e comecei a distribuir
aqueles doces só aqueles que me foram indicados. Todos servidos pela primeira
vez abundantemente, recomecei novamente a distribuição com uma dose abundante!
Eu vos asseguro que estava feliz em ver os jovens comer com apetite e
satisfação. Nos seus rostos estavam estampados a alegria, não pareciam mais os
jovens do Oratório tanto estavam transfigurados.
Aqueles que na sala ficaram sem doces,
ficavam num canto tristes e confusos. Entristecidos em vê-los dirigi-me a D.
Cafasso e perguntei-lhe insistentemente que permitisse que os doces fossem
dados também àqueles, para que pudessem experimentar.
- Não, não - respondeu D. Cafasso. Estes
não podem comer, que eles sarem e então poderão experimentá-los.
Eu olhava aqueles coitados. Olhava também os muitos jovens que
ficaram fora, todos doentes… Reconhecia todos e percebi que alguns deles tinham
o coração totalmente bichado.
Voltei a falar com D. Cafasso:
- Por favor indique-me que remédio
utilizar e como fazer para sarar aqueles meus filhos!
Ele respondeu:
- Pense, use a sua fantasia; o senhor já
o conhece.
Então insisti para que dissesse a
lembrança prometida para os meus jovens.
- Muito bem, respondeu. Vou falar!
E dando uns passos para atrás, por três
vezes, com voz cada vez mais forte, gritou:
- Preste atenção! Preste atenção! Preste
atenção!
Assim dizendo ele e com seus
companheiros foram saindo e desaparecendo, assim foi o sonho.
Então acordei e encontrei-me sentado na
cama e com as costas frias como o gelo.
Este foi o meu sonho. Agora cada um
interprete como quiser, mas saiba sempre dar-lhe a importância que se dá a um
sonho…
9 - AS TRÊS POMBAS (1878)
Pareceu encontrar-me nos Bechi, diante da
minha casa, quando eis que me foi apresentado um gracioso cesto. Olhei em seu
interior e comprovei que continha umas pombas, porém, pequenas e sem penas.
Voltei a olhar e me dei conta de que, em pouco tempo, lhes haviam crescido as
penas, mudando por completo de aspecto. Em três delas haviam saído umas penas
tão negras que pareciam corvos.
Maravilhado, disse a mim mesmo:
- Aqui há alguma bruxaria.
E olhava ao meu redor para ver se havia
por ali algum feiticeiro. Entretanto, me precavi de que as pombas haviam
levantado vôo e as vi afastar-se pelos
ares. Mas um que estava ali perto tomando uma escopeta, apontou e disparou.
Duas das pombas caíram por terra, porém, a terceira se afastou. Eu senti uma
grande pena e, acariciando-as, dizia:
- Pobres animaizinhos!
Entretanto, as examinava: eis que de
repente, não sei como, se converteram em clérigos. Todavia, mais maravilhado,
voltei a temer que se tratara de um efeito de bruxaria e olhei por uma e outra
parte, Porém, então, não sei bem se foi o pároco de Buttigliera, ou o de
Castelnuovo, quem me tocou no braço e me disse:
-Compreendestes? De três,
dois digo a Dom Júlio Barberis.
No cestinho havia mais de três pombas,
porém, das outras não é o caso.
Assim terminou o sonho.
Foi sempre minha intenção contá-lo. Mas
me esquecia de fazê-lo quando estavas presente e me lembrava quando já tinhas
partido. Agora vou dar a ti e aos demais a explicação do mesmo.
Entre outros, se encontravam presentes
monsenhor Scotton, Dom Antônio Fusconi de Bolonha e o Conde Cais.
Os comentários foram diversos, porém,
Dom Bosco tirou a seguinte conclusão:
- O cestinho contendo numerosas pombas
sem penas representa o Oratório. Dos que
chegam a ser clérigos, no cestinho, isto é, no Oratório, de três, perseveram
dois. Não há que fazer ilusões. Se abrigam esperanças de todos, porém um por
enfermidade, outro por falecimento, quer por oposição dos padres, quer por não
ter vocação, se produzem sempre baixas, e já é uma grande coisa que de três que
começam seguem só dois, permanecendo na
Congregação.
Observações
Contado em 13 de dezembro a
dom Júlio Barberis e a quatro jovens que rodeavam a Dom Bosco depois do almoço.
10 - TRABALHO, TRABALHO, TRABALHO
(1885)
Pareceu dirigir-lhe em direção a
Castelnuovo através de uma planície, junto a ele ia um venerando sacerdote,
cujo nome digo não recordava. Começaram a falar sobre os sacerdotes.
- Trabalho, trabalho, trabalho! -diziam-
este deve ser o objetivo e a gloria dos sacerdotes. Não retroceder jamais no
trabalho. Desta maneira quantas almas se salvariam! Quantas coisas se fariam
para a gloria de Deus! Oh, Se o missionário cumprisse em verdade com seu papel
de missionário, se o pároco cumprisse com sua missão de pároco, quantos prodígios
de santidade resplandeceriam por todas as partes! Porem, desgraçadamente,
muitos tem medo do trabalho e preferem as próprias comodidades.
Raciocinando desta maneira entre si,
chegaram a um lugar chamado Filippeli. Então Dom Bosco começou a lamentar-se da
falta de sacerdotes.
-
É certo - afirmou o outro - faltam os sacerdotes, porem, se todos os sacerdotes
cumprissem com seu oficio de sacerdote, haveria bastantes! Quantos sacerdotes
ha que não fazem nada pelo ministério! Alguns não são mais que o sacerdote da
família, outros, por timidez, permanecem ociosos, entretanto, pelo contrario,
se dedicassem ao ministério, se examinassem em confissão, levariam a um grande
vazio nas filas da Igreja... Deus proporciona as vocações segundo as
necessidades. quando se impôs o serviço militar aos clérigos, todos estavam
assustados, como se já nada pudesse chegar a ser sacerdote, porem, quando os
ânimos se serenaram, se comprovou que as vocações, em vez de diminuir,
aumentaram.
- E agora - perguntou Dom Bosco - o que
ha de fazer para promover as vocações no
meio da juventude?
- Nenhuma outra coisa, respondeu o
companheiro de viajem, mas sim cultivar zelosamente entre eles a moralidade. A
moralidade é o canteiro / seminário das vocações.
- O que e que se devem fazer especialmente
os sacerdotes para obter que a própria vocação produza frutos?
- Presbyter discat domum suam regere et
sanctificare. ( O presbítero aprenda a governar e santificar sua casa.) Que
cada um seja exemplo de santidade na própria família paroquiana. Que não se
entregue as desordens da gula, que na se deixem levar pelas coisas temporais...
Que seja, antes todo, modelo na sua própria casa e, depois, o será fora dela.
A certo ponto, aquele sacerdote
perguntou a Dom Bosco aonde se dirigia e Dom Bosco lhe indicou Castelnuovo. O
companheiro, então, deixando-lhe prosseguir, parou junto a um grupo de pessoas
que lhes precediam. Depois de dar alguns passos, o Servo de Deus se despertou.
Observações:
Dom Bosco teve este sonho na noite de 29
para 30 de setembro.
11
- A MISTERIOSA SENHORA E A MULTIDÃO DE GAROTOS
"Parecia-me estar numa grande
planície cheia de uma quantidade enorme de jovens. Alguns brigavam, outros
blasfemavam. Aqui se roubava, lá faltava-se contra a moral. Um punhado de
pedras passavam pelo ar, lançadas por grupos que brigavam entre si. Eram jovens
abandonados pelos pais e corrompidos. Eu queria ir embora depois, quando
percebi ao meu lado uma Senhora que me disse:
- Vai lá no meio destes jovens e
trabalha!
Eu fui, mas o que fazer? Não existia
nenhum lugar para acomodá-los, queria fazer-lhes o bem, dirigia-me a pessoas
que de longe estava olhando e que poderiam ter-me ajudado muito, mas elas não
queriam ouvir-me.
Dirigi-me então àquela Senhora, que me
disse:
- Eis o lugar - e mostrou-me um campo.
- Mas aqui só há um campo - disse-lhe.
- Meu Filho e os Apóstolos -
respondeu-me - não tinham nem sequer uma pedra para descansar a cabeça!
Comecei a trabalhar naquele campo,
aconselhando, pregando, confessando, mas percebia que na maior parte todo
aquele trabalho era praticamente inútil
se não encontrasse um lugar apropriado onde juntar aqueles jovens rejeitados
pelos pais e pela sociedade. Então aquela Senhora levou-me um pouco mais ao
norte e disse-me:
- Olhe!
Eu olhei e vi uma igrejinha pequena e
baixa, um pátio e uma porção de jovens. Recomecei o trabalho. Mas tendo-se esta
Igreja tornado estreita, voltei a pedir àquela Senhora, e Ela mostrou-me uma
outra Igreja bem maior e uma casa perto. Depois levou-me para outro lugar num
pedaço de ferro cultivado, quase na frente da Segunda igreja e disse:
- Neste lugar onde os gloriosos mártires
de Furius, Aventor, Otávio sofreram o seu mistério, sobre esta terra que foi
molhada e santificada pelo seu sangue, eu quero que Deus seja honrado de uma
maneira toda especial.
Assim falando, avança um pé indicando o
lugar onde se deu o martírio e indicou-o com precisão. Eu queria colocar aí
algum sinal para identificá-lo quando tivesse voltado naquele lugar, mas nada
encontrei, nem uma estaca e nem uma pedra, todavia guardei bem na memória.
corresponde exatamente ao ângulo inteiro da capela dos SS. Mártires antes
chamada de S. Ana, do lado do evangelho na Igreja de Maria Auxiliadora.
No entanto eu me vi rodeado de um número
incalculável de jovens e eles aumentavam, porém olhando a Senhora, cresciam os
meios e o lugar, e vi depois uma grandíssima Igreja exatamente no local que me
fique ver, onde se dera o martírio dos santos da legião Tebéia, com muitos
prédios ao redor e com um bonito monumento no meio.
Enquanto aconteciam estas coisas, eu,
sempre sonhando, tinha como ajudantes padres e clérigos que me ajudavam por um
tempo e depois iam embora. Procurava com grande trabalho segurá-los, mas eles
depois de um determinado tempo iam embora e me deixavam sozinho.
Então procurei a Senhora, que me disse:
- Você quer saber como segurar esses
colaboradores? Tome esta fita e amarre-a na cabeça deles.
Tomando reverentemente a fita branca da
mão dela, vi que nela estava escrita esta palavra: obediência. Experimentei
logo a seguir o conselho da Senhora e comecei a amarrar a fita na cabeça de
alguns de meus colaboradores e me dei conta de seus maravilhoso poder: eles
ficavam, aumentava o seu número, enquanto eu continuava amarrando a fita em
tantos e tantos ajudantes. Assim teve origem a Congregação Salesiana.
Vi ainda muitas outras coisas que agora
não é o caso de contar-vos (parece que fizesse alusão a grandes acontecimentos
futuros), mas é suficiente dizer que desde aquele tempo eu caminhava sempre
seguro, seja com relação aos oratórios, seja com relação às autoridades. As
grandes dificuldades que devem aparecer estão todas previstas e conheça o modo
de as superar. Veja muito bem do que vai acontecer e vou adiante
conscientemente. Foi exatamente depois de ter visto Igrejas, casas, pátios, jovens,
clérigos e padres que me ajudavam e a maneira de chegar a isso, que eu falei a
outros e contava como se tudo existisse. É por isso que muitos me facharam por
louco…"
12
- A VIDEIRA MISTERIOSA
Pareceu-me ver entrar no meu quarto um
monstro muito grande que foi avançando até colocar-se aos pés da minha cama.
Tinha a aparência horripilante de um sapo do tamanho de um boi.
Contendo a respiração, eu olhava firme
para ele. O monstro ia crescendo aos poucos: cresciam as pernas e crescia o
corpo, crescia a cabeça e, quanto mais aumentava o volume, mais pavoroso se
tornava. Era de cor verde, com risco vermelho em torno da boca e no pescoço, o
que lhe aumentava o pavoroso aspecto. Seus olhos de fogo; as orelhas
extremamente pequenas. Dizia comigo mesma enquanto o observava: "Mas sapo
não tem orelhas!" Na altura do nariz levantavam-se dois chifres e
brotavam-lhe dos flancos duas asas enormes, esverdeadas. Suas patas eram como a
do leão; a cauda terminava em duas pontas.
Pareceu-me que não sentia nenhum medo
até aquele momento; mas o monstro começou a aproximar-se cada vez mais de mim,
alargando a bocarra munida de dentes aguçados. Então um pavor enorme me
assaltou. Pensei que era um demônio, pois tinha dele todos os sinais. Fiz o
sinal da cruz mas nada adiantou. Toquei a campainha mas ninguém apareceu,
ninguém ouviu. Gritei mas em vão: o monstro não fugia.
- Que quer de mim - disse então -
demônio horrível?
Mas ele ia cada vez mais se aproximando;
levantava e alargava as orelhas. Depois pousou as patas dianteiras sobre a
grade dos pés da minha cama e foi se erguendo, agarrando-se ao ferro também com
as patas traseiras; ficou um momento imóvel, olhando fixo para mim. Depois
estirou para a frente o focinho, de maneira a ficar face a face comigo. Senti
tamanha náusea que me ergui num movimento rápido e fiz menção de pular da cama;
mas o monstro escancarou a boca. Queria defender-me, empurrá-lo, mas era tão
nojento que não ousei tocá-lo. Pus-me a gritar, procurava com as mãos, atrás de
mim, a pia de água benta, mas só encontrava a parede. Apostrofei-o então:
- Em nome de Deus! Por que faz isso
comigo?
A estas palavras o sapo recuou um
pouquinho. Fiz novamente o sinal da cruz e, tendo conseguido meter os dedos
dentro da pia de água benta, joguei algumas gotas sobre o monstro. Então aquele
demônio, dando um urro tremendo, atirou-se para trás e desapareceu. Ao mesmo
tempo pareceu-me ouvir uma voz que vinha do alto e que pronunciou distintamente
estas palavras:
- Por que não fala?
Compreendi que era vontade de Deus que
contasse a vocês o que tinha visto; por isso resolvi narrar-lhes todo o sonho
que tive, e no qual pude conhecer o estado de consciência de cada um de vocês.
Uma videira misteriosa
Na noite de Quinta-feira santa, apenas
adormeci, pareceu-me estar sob nossos pórticos, circundado pelos nossos padres,
clérigos, assistentes e jovens. De repente o Oratório atual mudou de aspecto,
tomando o que tinha nos seus inícios. É preciso lembrar que o pátio confinava
com vastos prados incultos, desabitados, que se estendiam até os campos da
Cidadela, onde os primeiros jovens muitas vezes corriam brincando.
Sentado, estava eu conversando a
respeito de negócios da casa e sobre o aproveitamento dos jovens, quando, junto
à pilastra que sustenta a bomba e junto da qual ficava a porta da casa Pinardi,
vimos brotar da terra uma virente parreira, igual à que havia outrora no mesmo
lugar. Ficamos admirados de vendo-a aparecer depois de tantos anos. Crescia a
olhos vistos até atingir a altura de um homem. Começou então a estender seus
sarmentos em grande número, daqui, dali, de todos os lados, a lançar os
raminhos tenros em todas as direções. Em breve ocupava nosso pátio inteiro e
ainda ganhava as imediações. O curioso é que os sarmentos não subiam para o
alto, mas iam se estendendo paralelamente ao solo, formando uma imensa pérgula,
sem que vissem esteios que a sustentassem. As folhas que brotavam eram belas e
verdes; os sarmentos, de um vigor e abundância surpreendentes. Logo começaram a
surgir os cachos, cresceram os bagos e a uva tomou seu colorido próprio.
Dom Bosco e os que o acompanhavam diziam
admirados:
- Como é que esta videira cresceu tão
depressa? Que será isto?
Disse Dom Bosco aos demais:
- Bom, vamos ver o que acontece.
Eu observava tudo como os olhos
arregalados, sem pestanejar. De repente todos aqueles bagos caíram no chão e se
transformaram em outros tantos jovens, vivos e alegres, que encheram o pátio do
Oratório e todo o espaço ocupado pela parreira. Era uma alegria vê-los. Eram os
jovens que já estiveram, que estão e estarão ainda no Oratório e nos outros
colégios, porque eu não conhecia muitos
deles.
Então um personagem, que a princípio eu
não sabia quem era, surgiu a meu lado e ficou observando também os jovens. Mas
de repente um véu misterioso estendeu-se
na nossa frente, furtando-nos a vista ao alegre espetáculo.
Aquele longo véu, não mais alto do que a
videira, parecia estar pregado nos sarmentos em toda a extensão e descia como
uma espécie de pano de boca. Não se via mais do que a parte superior da parreira, semelhante a um
imenso tapete de verdura. Cessara, como por encanto toda a alegria dos jovens,
sucedendo-se um melancólico silêncio.
- Olhe! - disse-me o guia e apontou-me a
videira.
Apenas folhas
Aproximei-me e pude ver que aquela linda
videira, que parecia carregada de cachos de uva, tinha apenas folhas, sobre as
quais estavam escritas as palavras do Evangelho: Nihil invenit in ea! Nada
encontrou nela! Não chegava a compreender tudo isso e perguntei ao personagem:
- Quem é você? Que significa esta
videira?
Ele levantou o véu que escondia a
parreira; pude ver apenas um limitado número dos numerosíssimos jovens visto
antes; a maioria era-me desconhecida.
- Estes - explicou - são aqueles que
apenas fingem praticar o bem, para não desmerecer diante dos companheiros. São
os que cumprem pontualmente o regulamento da casa, mas apenas por cálculo, para
evitar repreensões e para não perder os estimas dos superiores; mostram-se
reverentes para com eles mas não tiram proveito das instruções, das exortações,
dos cuidados que receberam - ou receberão - nesta casa. Seu ideal é conquistar
um posição de destaque e lucrativa no mundo. Pouco se lhe dá estudar a própria
vocação; desdenham o convite o Nosso Senhor lhes faz. Em resumo, são aqueles
que fazem as coisas forçados e, por conseguinte, sem proveito para eternidade.
Que desgosto para mim descobrir naquele
número alguns jovens que supunham muito bons, afeiçoados e sinceros!
O amigo acrescentou:
- O mal não é só esse - e deixou cair o
véu, reaparecendo a parte superior da extensa vinha.
- Olhe agora novamente.
Cachos estragados
Olhei para os sarmentos. Viam-se entre
as folhas muitos cachos de uva que a princípio me apareceram como a promessa de
uma rica colheita. Já estava antecipadamente alegre. Aproximando-me, porém,
pude ver que aqueles cachos eram defeituosos, estavam estragados; uns estavam
mofados; outros cheios de vermes e de insetos que o devoravam; outros ainda
picados pelos passarinhos e pelas vespas; outros, finalmente, murchos e
amassados. Olhando bem, persuadi-me de que nada de bom poderia tirar daqueles
cachos; ao contrário, eles estavam empestando o ambiente com o mau cheiro que
exalavam.
O personagem levantou novamente o véu.
Pude ver, não o número incalculável de jovens do início do sonho, mas muitos e
muitos deles. Seus rostos, antes tão belos, tinham-se tornado feios, escuros,
cobertos de feridas. Passavam encurvados e tristonhos. Nenhum falava. Entre
eles alguns havia que estão presentemente nesta casa, outros que já estiveram;
muitíssimos eu não conhecia ainda. Todos estavam envergonhados e não
ousavam levantar os olhos.
Eu, o padre e outras pessoas que me
acompanhavam estávamos assustados, não sabendo o que dizer. Finalmente
perguntei ao meu guia:
- Que significa isto? Por que aqueles
jovens, antes tão alegres e vivos, estão agora tão tristes e desfigurados?
O guia respondeu:
- São as consequências do pecado.
Entretanto, os jovens passavam diante de
mim, e o guia me disse:
- Observa-os bem.
Olhei com atenção e pude ver que todos
tinham escrito na mão e na fronte o próprio pecado. Entre estes reconheci
alguns, ficando admirado. Tinha sempre pensado que fossem ótimos jovens e
descobria agora que tinham gravíssimos defeitos.
Enquanto desfilavam lia em suas frontes:
imodéstia, escândalo, malignidade, soberba, ócio, gula, inveja, ira, espírito
de vingança, blasfêmia, irreligiosidade, desobediência, sacrilégio, furto.
Meu guia fez-me observar:
- Nem todos já são agora como que estás
vendo, mas assim se tornarão, se não mudarem de rumo. Quem despreza as coisas
pequenas, pouco a pouco cairá nas grandes. A gula gera egoísmo e impureza; o
desprezo dos superiores leva ao desprezo dos sacerdotes e da Igreja; e assim
por diante.
Desolado por ouvir estas palavras, tirei
a caderneta e o lápis para tomar nota dos nomes dos jovens que conhecia, para
poder adverti-los e corrigi-los. Mas o guia segurou o meu braço e perguntou:
- Que está fazendo?
- Estou escrevendo seus nomes, para
poder adverti-los; desta forma, poderão corrigir-se.
- Isso não lhe é permitido - respondeu o
amigo.
- Por quê?
- Os meios não faltam para libertar-se
dessas doenças. Têm superiores; que lhes obedeçam. Têm os sacramentos; os
freqüentem. Têm a confissão; não a descuidem. Têm a comunhão; não a recebam por
hábito. Ponham um freio nos olhos, fujam dos maus companheiros, abstenham-se
das más leituras e das más conversas. Sejam prontos a obedecer. Não procurem
subterfúgios para enganar os professores e ficarem ociosos. Não procurem
sacudir o jugo dos superiores, considerando-os como vigilantes importunos,
conselheiros interesseiros, inimigos; não cantem vitória quando conseguem
impedir que suas faltas fiquem sem punição. Rezem de boa vontade na Igreja e em
outro tempo destinado a oração. Estudo, trabalho, oração: eis o que pode
conservá-los bons.
Não obstante a resposta negativa,
continuei a pedir insistentemente ao meu guia que me deixasse escrever aqueles
nomes. Ele, então, tirou-me resolutamente das mãos o caderno de notas e
jogou-o ao chão, dizendo:
- Já lhe disse que não é necessário que
você escrevesse esses nomes. Com a graça de Deus e a voz da consciência seus
jovens podem saber o que devem fazer e evitar.
- Então não vou poder manifestar nada
aos meus queridos jovens? Diga ao menos o que poderei dizer-lhes, que aviso
devo dar-lhes.
- Poderá, a seu gosto, dizer aquilo de
que se lembrar.
Cachos maduros e belos
Deixou cair o véu; apareceu de novo,
diante de nossos olhos, a videira, cujos sarmentos, quase sem folhas,
carregavam belos cachos de uva corada e madura. Aproximei-me e observei
atentamente os cachos: eram realmente o que pareciam à distância. Era um prazer
contemplá-los. Espalhavam ao redor um suavíssimo perfume.
O amigo levantou-me o véu. Sob a
pérgula, extensa como era, estavam os nossos jovens, os de agora, os que já
estiveram e os que ainda estarão conosco. Eram belíssimo e estavam radiosos de
alegria.
- Estes - disse-me o guia - são os que,
segundo os seus ensinamentos, produzirão bons frutos. São aqueles que praticam
a virtude e que lhe darão muitas consolações.
Fiquei contente e ao mesmo tempo aflito,
porque estes últimos não correspondiam ao número muito grande que eu esperava.
Foi quando Dom Bosco acordou.
13 - O SONHO DA PASTORA E DA ESTRANHA
GREI (Mb II 243-245)
"No segundo Domingo de outubro
daquele ano (1844) - conta-nos Dom Bosco - devia falar ao s meus jovens, que o
Oratório devia ser transferido para Valdocco. Mas a incerteza do lugar, dos
meios, e das pessoas deixavam-me verdadeiramente preocupado. Na noite anterior
fui dormir com o coração inquieto. Naquela noite tive um outro sonho, que parece
um apêndice daquele tido pela primeira vez, nos Becchi, quando tinha nove anos.
Julgo melhor narrá-los detalhadamente.
Sonhei em meio uma multidão de lobos,
cordeiros, ovelhas, cães, aves e outros animais. Todos juntos faziam um
barulhão, uma algazarra, ou melhor uma confusão dos diabos que amedrontaria até
os mais corajosos. Eu queria fugir, quando uma Senhora, bem vestida á moda de
uma pastora, fez sinal de seguir e acompanhá-la aquele aglomerado de animais,
enquanto Ela caminhava à frente. Fomos andando por vários lugares, fizemos três
paradas, a cada parada muitos daquele animais mudavam em cordeiros, cujo número
andava sempre aumentando. Depois de ter muito caminhado, encontrei-me num
campo, onde aqueles animais pulavam e pastavam juntos, sem que uns mordessem
outros.
Cansado queria sentar-me, mas a pastora
convidou-me a continuar caminhando. Percorrido ainda um espaço de caminho,
encontrei-me em um grande pátio ao redor de uma espaçosa varanda, em cuja
extremidade havia uma Igreja. Aqui percebi que 4/5 daqueles animais
transformaram-se em cordeiros. Os sem número depois tornou-se grandíssimo.
Naquela hora apareceram alguns pastorzinhos para guardá-los, mas eles
permaneciam pouco e logo saíram. Então deu-se uma maravilha. Muitos cordeiros
transformaram-se em pastorzinhos, dividiram-se, e foram para outros lugares
para ajuntar outros estranhos animais e guiá-los para outros apriscos.
Eu queria ir embora, porque parecia que estava na hora para celebrar a Missa, mas
a pastora convidou-me para olhar para o sul; olhando, vi um campo, em que havia
plantado, trigo, beterrabas, milho, feijão e uma porção de outras coisas.
- Olhe outra vez - disse-me.
Olhei novamente, e vi uma magnífica e
majestosa Igreja. Uma orquestra, música instrumental e vocal me convidavam para
celebrar a missa. No interior daquela Igreja havia uma faixa branca, em que
estava escrito: HIC DOMUS MEA, INDE GLORIA MEA (Esta é a minha casa, daqui
sairá minha glória). Continuando no sonho, quis perguntar a pastora onde me
achava, o que significava aquele caminhar, com paradas, com aquela casa, Igreja
e depois com aquela segunda Igreja.
- Você compreenderá tudo, respondeu-me,
quando com os olhos materiais verá tudo isso que você está vendo com os olhos
da mente.
Mas achando que estava acordado, disse:
- Eu estou vendo claramente, e vejo com
estes meus olhos materiais, sei aquilo que faço e para onde vou.
Naquele mesmo instante tocou o sino da
"Ave Maria" da Igreja de São Francisco de Assis e eu acordei.".
14 - AS DEZ COLINAS (1864)
(MB 7, 796-800= MB 7,
677-681)
Dom Bosco havia sonhado na noite
precedente. Ao mesmo tempo, um jovem chamado C. E., de Casale Monferrato, teve
também o mesmo sonho, parecendo-se que se encontrava com Dom Bosco e que falava
com ele. Ao levantar-se estava tão impressionado que foi contar quanto havia
sonhado a seu professor, no qual aconselhou que se entrevistasse com o Servo de
Deus. O jovem obedeceu imediatamente e se encontrou com Dom Bosco, que descia
as escadas em sua busca para fazer o mesmo.
Pareceu-lhe encontrar-se em um
extensíssimo vale ocupado por milhares e milhares de jovenzinhos; tantos eram,
que o Servo de Deus não acreditou que houvesse tantos meninos no mundo. Entre
aqueles jovens viu aos que estiveram e os que estão em casa e aos que um dia
estarão nela. Juntos com eles estavam os sacerdotes e os clérigos da mesma.
Uma montanha altíssima cercava aquele
vale por um lado. Enquanto Dom Bosco pensava no que havia com aqueles meninos,
uma voz lhe disse:
- Vês aquela montanha? Pois bem, é
necessário que tu e os teus cheguem até lá em cima.
Então ele deu ordem a toda aquela
multidão de encaminhar-se a um lugar indicado. Os jovens de puseram em marcha e
começaram a escalar a montanha a toda pressa. Os sacerdotes da casa corriam na
frente animando os meninos à subida, levantavam os caídos e carregavam sobre
suas costas os que não podiam prosseguir a causa do cansaço. Dom Miguel Rua,
com as mangas da camisa arregaçadas, trabalhava mais que ninguém e, tomando os
meninos de dois em dois, os lançavam pelos ares em direção à montanha, sobre a
qual caíam de pé, e corriam depois alegremente por uma e outra parte.
Dom João Cagliero e Dom João Batista
Francesia recorriam às fileiras gritando:
- Ânimo. Avante! Avante, ânimo!
Em pouco mais de uma hora aqueles
numerosos grupos de jovens haviam alcançados o cume; Dom Bosco também havia
ganhado a meta.
E agora que fazemos?, disse.
E a voz acrescentou:
deves recorrer com teus jovens essas dez
colinas que contemplas diante de tua vista, dispostas uma detrás da outra.
Porém, como poderemos suportar uma
viajem tão longa, com tantos meninos tão pequenos e tão delicados?
Os que não podem caminhar com seus pés
serão transportados, respondeu-lhe.
E eis que, em efeito, apareceu por um
extremo da colina uma magnífica carruagem. Tão bonita era, que seria impossível
descrevê-la, mas algo se pode dizer. Tinha forma triangular e estava dotada de
três rodas que se moviam em todas as direções. Dos três ângulos partiam três
hastes que se uniam em um ponto sobre a mesma carruagem formando como a
cobertura de um alpendre. Sobre o ponto de união, levantava-se um magnífico
estandarte em que estava escrito, com caracteres cubitais, esta palavra: Inocência. Uma franja bordava ao
redor de toda a carruagem formando orla na qual aparecia a seguinte inscrição:
Adjutorium Dei Altissimi Patris et Filii et Spiritus Sancti (Ajuda do Altíssimo
Deus, Pai, Filho e Espírito Santo).
O
veículo, que resplandecia como o ouro e que estava repleto de pedras preciosas,
avançou até se colocar no meio dos
jovens. Depois de recebida a ordem, muitos meninos subiram nele. Eram
quinhentos. Apenas quinhentos, entre tantos milhares de jovens, eram, todavia
inocentes!
Uma
vez ocupado o carro, Dom Bosco pensava por que caminho havia de se dirigir,
quando viu abrir-se ante seus olhos um caminho largo e cômodo, mas todo coberto
de espinhos. De repente apareceram seis
jovens que haviam mortos no Oratório, vestidos de branco e levantando uma
belíssima bandeira em que se lia: Penitência. Estes foram colocar-se à cabeça
de todos aqueles grupos de meninos que haviam de continuar a viagem a pé.
Seguidamente deu-se do sinal de partida. Muitos sacerdotes
lançaram-se aos varais da carruagem, que começou à se mover, tirada por eles.
Os seis jovens vestidos de branco lhes seguiram. Detrás ia toda a multidão de
garotos. Acompanhados de uma música belíssima, indescritível; os que iam na
carruagem entoaram o Laudare, pueri,
Dominum (Louvai, meninos, ao Senhor). Dom Bosco prosseguiu seu cominho
como que extasiado por aquela melodia do céu, quando lhe acorreu olhar para
trás à comprovar se todos os jovens lhe seguiam. Porém, o doloroso espetáculo!
Muitas haviam caídos no vale e muitos outros haviam voltado atrás. Com
indizível dor , decidiu refazer o caminho para persuadir àqueles imprudentes
que continuassem na ação e para ajudar-lhes à lhes seguir. Mas os proibiu
irrevogavelmente.
— Se não lhes ajudo, estes pobrezinhos
se perder-se-ão, exclamou ele.
— Pior para eles, lhe foi respondido;
foram chamados como os demais e não quiseram seguir-te. Hão visto o caminho que
deve recortar e isso basta.
Dom Bosco queria replicar, vagou,
insistiu porém tudo foi inútil.
— Também tu tens que obedecer,
disseram-lhe.
E teve que prosseguir o caminho.
A
um não havia refeita de este dor, quando
sucedeu outro lamentável acidente.
Muitos
dos meninos que se encontravam na carruagem, pouco a pouco, foram caído por
terra. Dos quinhentos, apenas se
chegaram cento e cinqüenta baixo estandarte da inocência.
A Dom Bosco lhe parecia que o coração ia partir no peito pela
insuportável angústia. Abrigava, com tudo, a esperança de que aquilo fosse
somente um sonho; fazia todo tipo de esforço para despertar-se porém cada vez
se convencia mais de que se tratava de
uma terrível realidade. Dava palmadas e ouvia
o ruído produzido por suas mãos, gemia e percebia seu gemidos ressonando
na habitação, queria dissipar aquele terrível pesadelo, porém nada podia.
—
Ah, meus queridos jovens!, exclamou ao chegar a este ponto da narração do
sonho, eu havia visto e reconhecido os que quedaram no vale, os que se votaram
atrás e os que caíram da carruagem. Os reconheci todos porém não duvideis: fiz
toda sorte de esforços possível ao meu alcance para salvar-vos. Muitos de vocês
convidados por mim a confessar-se, não respondestes a meu chamado. Por caridade
salvai vossas alma.
Muitos
dos meninos que caíram do carro foram a colocar-se pouco a pouco entre as
fileiras dos que caminhavam detrás da
segunda bandeira.
Entretanto,
a música do carro continuava sendo tão doce, que a dor de Dom Bosco foi
desaparecendo.
Havia
passado já sete colinas e, ao chegar na
oitava, a multidão de jovens chegou a um belíssimo povoado em que se tomou um
pouco de descanso. As casas era de uma riqueza e de uma beleza
indescritível.
Ao falar aos jovens sobre aquele lugar,
exclamou Dom Bosco:
—
Os direi com Santa Teresa o que ela
afirmou do paraíso: são coisas que, se falar delas, perdem o valor, porque são
tão belas que inútil esforçar-se em descrever. Portanto só acrescentarei que as
colunas daquelas casas pareciam de ouro, de cristal e de diamante ao mesmo
tempo, de forma que produziam uma grata impressão, saciavam a vista e infundiam
um gozo extraordinário. Os campos estavam repletos de árvores em cujas ramas
apareciam, ao mesmo tempo, flores, gemas, frutos maduros e frutos verdes. Era
um espetáculo encantador:.
Os
jovenzinhos se esparramaram por todas as partes: atraídos por uma coisa, outros
por outra, e desejosos, ao mesmo tempo, de provar aquelas frutas.
Foi neste povoado onde aquele jovem de
Casale se encontrou com Dom Bosco e teve com ele um longo diálogo. Ambos
recordavam depois as perguntas e respostas da conversação que haviam mantido.
Singular combinação de dois sonhos!
Dom Bosco experimentou aqui outra
estranha surpresa. Viu de repente os seus jovens como se houvessem tornados
velhos; sem dentes, com o rosto cheio de
rugas, o cabelo branco, encurvados, caminhando com dificuldades apoiados num
bastão. O Servo de Deus estava
maravilhado com aquela metamorfose, mas a voz lhe disse:
— Tu te maravilhas, porém, hás de saber
que não faz horas que saíste do vale, senão anos e anos. Tem sido a música
que tem feito que o caminho te parecera curto. Em prova do
que te digo, observa rua fisionomia e te convencerás de que estou dizendo a
verdade.
Então lhe foi apresentado um espelho a
Dom Bosco. Nele se olhou e comprovou que seu aspecto era de um homem ancião, de
rosto coberto de rugas e boca desdentada.
A comitiva, entretanto, voltou a
colocar-se em marcha e os jovens manifestavam desejos, de quando em quando,
à se deter para contemplar aquelas
coisas novas. Dom Bosco lhes dizia:
— Adiante, adiante, não necessitamos de
nada, não temos fome, não temos sede ; portanto, prossigamos adiante.
Ao fundo, na parte distante, sobre a
décima colina despontava uma luz que ia sempre um aumente, como se saísse de
uma maravilhosa porta. Voltou a olhar novamente o canto, tão harmonioso; que
somente no Paraíso se pode ver e gostar de uma coisa igual. Não era uma música
instrumental, nem parecia de vozes humanas. Era algo impossível de descrever e
foi tanto o júbilo que inundou a alma de Dom
Bosco que se despertou encontrando-se no leito.
Observações:
Dom Bosco teve este sonho à 21 de
novembro e o narrou à noite de 22. Esta mesma noite a transcreve Dom Lemoyne.
Dom Bosco o interpretou assim: o vale é o mundo; as montanhas, os obstáculos
para desapegar-nos delas; as dez colinas, os dez mandamentos de Deus; o carro,
a graça de Deus; os jovens que começam a pé são os que, perdida a inocência,
arrependeram-se de seus pecados. Acrescentou que estava disposto a dizer
confidencialmente o papel que desempenhava no sonho.
Dom Lemoyne interpreta as dez colinas
como decênios: a oitava colina, sobre a qual Dom Bosco faz uma parada, representa
o término da vida de Dom Bosco, que terá lugar mais além de seus sessenta anos.
15 - DOIS SACERDOTES NA CATEDRAL (
1886)
(MB 18, 26= Bem 18,33)
Entrava na catedral de são João de
Turim, quando viu dois sacerdotes, um dos quais estava apoiado na pia de água
benta e o outro numa coluna, tendo ambos com indiferença um chapéu na cabeça.
Sabia querido repreendêl-los, mas duvidava um pouco de força eu digo ao
primeiro deles:
- Perdão, donde é o senhor?
- E o senhor que lhe importa saber isto?
Lhe respondeu o outro com brusquidão.
- É somente porque quisera dizer-lhe uma
coisa que urge.
- Pois, eu não tenho nada a ver com o senhor.
- De todos os modos, olhe senhor: eu não
quero recriminá-lo; porém, se não guarda o devido respeito ao lugar santo e não
lhe importa que a gente se escandalize e ache graça do senhor, ao menos olhe
para sua própria pessoa. Tire o chapéu!
- É verdade, tens razão, diz o sacerdote
e tira o chapéu.
Depois Dom Bosco se dirigiu ao outro e
lhe repetiu o aviso; e este também descobriu a cabeça. E Dom Bosco, rindo com
prazer, acordou.
Observações:
Contado em 25 de fevereiro. Estamos
diante de outra das preocupações de Dom Bosco: a dignidade, o bom nome do
ministro do altar?
16 - O BURACO E A SERPENTE (1863)
(MB7,550-551 = Bem 7,470)
Ontem pela manhã fizemos o exercício da
boa morte. Todo o dia andei pensando nos
frutos que dele nasceriam. Temo, porém, que alguém de vós não tenha feito bem o
retiro. Tive esta noite um sonho que vou lhes contar:
Me encontrava no pátio com todos os
alunos de casa, que brincavam: corriam, saltavam. Saímos do Oratório para ir de
passeio e depois de algum tempo nos deparamos em um prado. Os meninos reuniram
seus jogos e cada um ia apostar com os demais para ver quem era o que mais
saltava. Nisto descobriu no meio do pátio, digo, do prado, um poço sim boca.
(........) me aproximei para examiná-lo e assegurar-me de que não oferecia
perigo a alguém, quando no fundo uma terrível serpente. Seu tamanho era como de
um cavalo, ou melhor, de um elefante; seu corpo informe e todo coberto de
manchas amareladas.
Imediatamente saí cheio de medo e
comecei a observar os jovens que em bom número, havia começado a saltar de uma
a outra parte do poço e, coisa estranha sem que me viesse à mente o deve
proibi-los, de avisar-lhes do perigo que estavam se expondo. Vi alguns
pequenos, tão ágeis que saltavam sem dificuldade alguma. Outros maiores, como
eram mais pesados, saltavam com mais calma, porém, alcançavam menor altura e as
vezes caiam na mesma boca. Percebeu aqui que ele se mostrava e tornava a
desaparecer a cabeça daquele monstro que mordia o pé de um, a perna de outro e
outros membros. A pesar disso eles eram tão imprudentes que seguiam saltando
sem parar e quase nunca caíam feridos. Então um jovem me assinalou e disse
mostrando-me um companheiro:
- Olhe, este saltará uma vez e não
acontecerá mal. Saltará uma Segunda e cairá ali.
Me dava pena ver no entanto a muitos
jovens estendidos por aquele solo, um buraco em uma perna, outro com um braço
mordido e algum com o coração desgarrado. Eu ia lhes perguntando:
- Por que saltais sobre esse poço,
expondo-os a tanto perigo? Por que, depois de haver sido mordidos várias vezes,
voltam a repetir esse jogo terrível?
E eles respondiam enquanto suspiravam:
- Não! Estamos acostumados a saltar.
Eu lhes dizia:
- E que necessidades têm vocês de
saltarem?
- E eles replicavam:
- Que queres? Não estamos acostumados.
Não pensávamos que ia acontecer isso conosco.
Porém, entre todos um me chamou atenção
e me fez tremer: era o que havia me assinalado. Saltou de novo e caiu dentro do
poço. Depois de alguns instantes, o monstro o colocou para fora, negro como um
carvão; porém, mesmo assim não estava morto e seguia falando. Os que estavam
ali lhe contemplavam espantados e lhe perguntavam.
Observações:
Dom Bosco contou este sonho na noite de
13 de novembro, sabendo o que tinha acontecido na noite anterior... estou
preocupado porque alguém não há feito bem o retiro; desde ontem, não penso em
outra coisa...
17 - AS MISSÕES SALESIANAS NA AMÉRICA
MERIDIONAL (1885)
"Me pareceu acompanhar aos
missionários em sua viagem. Falamos durante alguns momentos antes de sair do
Oratório. Todos estavam ao meu fedor e me pediam conselhos; e me pareceu que
eles diziam:
- Não com a ciência, não com a saúde,
não com as riquezas. Sim com o céu e a piedade, fareis muito bem, promovendo a
glória de Deus e a salvação das almas.
Pouco antes estávamos no Oratório e
depois, sem saber que caminho havíamos imediatamente na América. Ao chegar ao
final da viagem, me vi só em meio de uma extensíssima planície, colocada entre
o Chile e a república Argentina. Meus queridos missionários se haviam
dispersados tanto por aquele espaço sem limites que apenas se os distinguia. Ao
contemplá-los, fiquei maravilhado, pois me pareciam muito poucos. Depois de
haver mandado tantos Salesianos para
América, pensava que veria um maior número de missionários. Entretanto,
seguidamente refletindo, compreendi que o número era pequeno porque se haviam distribuído
por muitos lugares, como semente que devia ser transportada a outro lugar para
ser cultivada e para que se multiplicasse.
Apareciam naquela planície muitas e
numerosas estradas / ruas formadas por casas levantadas ao largo das mesmas.
Aquelas povoações não eram como as desta terra, nem as casas como as deste
mundo. eram objetos misteriosos e diria casas espirituais. As ruas se viam
recorridas por veículos ou ir meios de locomoção que, ao correr adotavam mil
aspectos fantásticos e mil formas diversas se bem que todas estupendas e
magníficas, tanto que não seria capaz de descrever nem uma só delas. Observei
com assombro que nos veículos, ao chegar junto aos grupos de casas, aos povos,
as cidades, passavam por cima de maneira que, os que neles viajavam, via o
olhar para baixo dos telhados das casas, as quais se bem que eram muito
elevadas, estavam por debaixo daqueles caminhos, que, entretanto, atravessavam
o deserto estavam aderidos ao solo e ao chegar aos lugares habitados, se
convertiam em caminhos aéreos, como formando uma mágica ponte. Daí para cima ,
se viam os habitantes nas casas, nos pátios, nas ruas e nos campos, ocupados em
lavrar suas terras.
Cada uma daquelas ruas conduzia a uma de
nossas missões. Ao fundo de um caminho larguíssimo que se dirigia em direção ao
Chile, vi uma casa com muitos Salesianos, os quais se exercitavam na ciência,
na piedade, nas diferentes artes e ofícios e na agricultura. Em direção ao meio
sai estava na Patagônia. Na parte oposta de uma só olhada, pude ver todas nossas
casas da República Argentina. As do Uruguai, Paissandu, as Pedras, Vila Cólon,
no Brasil pude ver o colégio de Niterói e muitos outros institutos espalhados
pelas províncias daquele império. Em direção ao ocidente se abria uma última e
larguíssima avenida que, atravessando rios, mares e lagos, conduzia a países
desconhecidos. Nesta região, vi poucos Salesianos. Observei com atenção e pude
descobrir somente dois.
Naquele momento, apareceu junto a mim um
personagem de aspecto nobre, um pouco pálido, corpulento, de barba rala e de
idade madura. Ia vestido de branco, com uma espécie de capa de cor rosa bordada
com fios de ouro. Resplandecia em toda a sua pessoa. Reconheci nele o meu
intérprete.
- Onde nos encontramos? Lhe perguntei
mostrando aquele último país.
- Estamos na Mesopotâmia, replicou.
- Na Mesopotâmia? Lhe repliquei. Sim,
mas esta é a Patagônia.
- Te repito - me replicou - que esta é a
Mesopotâmia.
- Pois assim é: Me-so-po-tâ-mia,
concluiu o intérprete, silabando a palavra, para que me ficasse bem impressa na
memória.
- E
por que os salesianos que vejo aqui são tão poucos?
- O que não há agora, o haverá com o
tempo - contestou meu intérprete.
Eu entretanto, sempre de pé naquela
planície, percorria com a vista aqueles caminhos intermináveis e contemplava
com toda claridade, entretanto, de maneira inexplicável, os lugares que estão e
estarão ocupados pelos salesianos. Quantas coisas magníficas vi! Vi todos e
cada um dos colégios! Vi como em um só ponto o passado, presente e o futuro de
nossas missões. Da mesma maneira que o
contemplei todo no conjunto de uma só olhada, o vi também, sendo-me impossível
dar uma idéia, se bem que quase em cima daquele espetáculo. Somente o que pude
contemplar naquela planície do Chile, do Paraguai, do Brasil, da República
Argentina, seria suficiente para encher um grosso volume, se quisesse dar uma
breve notícia de todo ele. Vi também naquela ampla extensão a grande quantidade
de selvagens que estão espalhados pelo Pacífico até o Golfo de Ancud, pelo
Estreito de Magalhães, Cabo de Hormos, Ilhas de São Diego, nas Ilhas Malvinas.
Toda a messe destinada aos Salesianos. Vi então, que os Salesianos semeavam
somente, entretanto, que nossos seguidores colhiam. Homens e mulheres vinham
reforçar-nos e se convertiam em pregadores. Seus mesmos filhos, que parece
impossível poder ser ganhado para a fé, se converteram em evangelizadores se
seus pais e de seus amigos. Os Salesianos o conseguiram tudo com a humildade,
com o trabalho, com a temperança. Todas as coisas que eu contemplava naquele
momento e que vi seguidamente se referiam aos Salesianos, seu regular
estabelecimento naqueles países, seu maravilhoso aumento, a conversão de tantos
indígenas e de tantos europeus ali estabelecidos. Europa se voltará em direção
a América do Sul. Desde o momento em que
na Europa se empenhou a desposar as Igrejas de seus bens, começou a diminuir o
florescimento do comércio, e qual foi e
irá cada vez mais de ( capa caída). Para que os operários e suas famílias
impelidos pela miséria, irão buscar refúgio naquelas novas terras
hospitaleiras.
Uma vez contemplando o campo que o
Senhor nos tinha destinado e o futuro glorioso da Congregação Salesiana, me
pareceu que me poria em viagem para regressar a Itália. Era levado a grande
velocidade por um caminho estranho, altíssimo, e dessa maneira cheguei ao
Oratório. Toda a cidade de Turim estava abaixo de meus pés e as casas, o
palácios, as torres, me pareciam baixas casinhas: tão alto me encontrava.
Praças, ruas, jardins, avenidas, ferrovias, os muros, que rodeiam a cidade, os
povos e a província, a gigantesca cadeia dos Alpes coberta de neve estavam
abaixo de meus pés e ofereciam a meus olhos um espetáculo maravilhoso. Via os
jovens lá no Oratório, tão pequeno que pareciam ratinhos. Em geral, parecia que
a cúpula daquela grande sala fosse de candíssimo linho à guisa de tapete. O
mesmo havia que descer do pavimento. Não havia luzes nem sol, nem estrelas,
porém, sim um resplendor geral que se difundia igualmente por todas as partes.
A mesma brancura do linho resplandecia e
fazia visível e amena cada uma das
partes do salão, sua ornamentação, as janelas, a entrada, a sala. Se sentia em
todo o ambiente uma suave fragrância mesclada com os mais gratos aromas. Um
fenômeno se produz naquele memento. Uma série de pequenas mesas formavam uma só
de longitude extraordinária. Haviam dispostas em todas as direções e todas
convergiam em um único centro. Estavam cobertos de elegantíssimas toalhas e,
sobre elas, se viam colocados formosíssimos vasos com multiformes e variadas flores.
A primeira coisa que notou monsenhor Cagliero foi:
Mas, as mesas estão aqui. E as comidas?
No entanto , não havia preparado comida
alguma, nem bebida de nenhuma espécie, nem tão pouco pratos, copos, nem
recipientes nos quais podiam colocar a comida.
Então, o intérprete replicou:
- Os q vem aqui neque sitient, meque
esurien amplius.
Dito isto, começou a entrar pessoas,
vestidas de branco, com uma simples fita parecido com o colar, de cor rosa,
recomendada com o brilho de ouro que o enfaixava o pescoço e as costas. Os
primeiros a entrar formavam um número limitado, só um pequeno grupo. Apenas
entravam naquela grande sala e se iam sentando em torno à mesa preparados para
eles, cantando. Viva! Triunfo! E então começou a aparecer uma variedade de
pessoas, grandes e pequenas, homens e mulheres, de todo gênero, de diversas
cores, formas e atitudes, ressonando os cânticos de toda parte. Os que estavam
já colocados em seus lugares cantavam: Viva! E os que iam entrando: Triunfo.
Cada turma que entrava naquele local representava uma nação. O lugar de nação
que seriam convertidos pelos missionários.
Depois de uma olhada àquelas mesas
intermináveis, comprovei que haviam sentados junto a elas muitas nossas irmãs e grande número de irmãos
nossos. Estes não levaram distintivo algum que predominasse sua caridade de
sacerdotes, clérigos ou religiosos senão que, igual aos demais tinham o hábito
branco e o manto cor-de-rosa.
Mas minha admiração cresceu quando vi
alguns homens de aspecto grosso, com o mesmo vestido igual aos outros,
cantando: Viva! Triunfo !
Então nosso intérprete disse:
Os estrangeiros e os selvagens, que
beberam o leite da palavra divina de seus educadores, se fizeram proclamadores
da palavra de Deus.
Vi no meio da multidão, grupos de
rapazes com aspecto estranho, e perguntei:
E estes meninos que tem uma pele tão
áspera que parece à de sapos, mas tão bela e de uma cor tão resplandecente?
Quem são?
São os filhos de Cam que não haviam
renunciado à herança de Levi. Estes reforçaram os exércitos para defender o
reino de Deus que havia chegado a nós. Seu número era reduzido, mas os filhos
de seus filhos o havia complementado. Agora escuta e vê, mas não podereis
entender os mistérios que contemplareis.
Aqueles jovenzinhos pertenciam à
Patagônia e a África Meridional.
Entretanto, aumentaram tanto as filas
dos que entravam naquela sala extraordinária que todos os assentos apareciam
ocupados. Todas as cadeiras e bancos estavam ocupados e não tinha uma forma
determinada, sem tomar o lugar que cada um queria. Cada pessoa estava contente
do lugar que ocupava e os demais também.
E eis que, enquanto saiam vozes de todas
as partes: Viva! Triunfo! Chegou, finalmente, uma grande multidão que, vinham
com ato festivo ao encontro dos que já haviam entrado. E os que vinham chegando cantavam: Aleluia,
Glória, Triunfo.
Quando a sala apareceu completamente
cheia e os milhares de reunidos eram incontáveis, se fez um profundo silêncio e
um seguida, aquela multidão começou a cantar dividida em coros diversos:
O primeiro coro: Appropinquiavit in nos
reginom Dei, llaetentur coeli et exultet terra dominus.
O segundo coro: ?
O terceiro coro: ?
Enquanto cantavam estes e outros cantos
alternando uns com os outros, se fez por Segunda vez um profundo silêncio.
Depois começaram a ressoar vozes que procediam do alto de longa distância. O
sentido do canto era este e a harmonia que o acompanhava era difícil de
expressar: Soli deo honor et gloria in saecula saeculorum.
O pensamento principal que foi gravado
depois deste sonho, foi meu repasse Dom Cagliero e a meus queridos missionários
que era um aviso de muita importância, relacionado com a sorte futura de nossas
missões.
-
Todas as solicitudes dos Salesianos e das FMA haveriam de encaminhar e
promover vocações sacerdotais e religiosas.
18 - SOBRE A ELEIÇÃO DE ESTADO (1834)
(Mb, 302
= Mb 1,251 - 252)
Poucos dias antes do marcado para a
minha entrada, tive um sonho bastante estranho. Me pareceu ver uma multidão
daqueles religiosos com os hábitos amarrotados, correndo um sentido contrário
uns dos outros. Um deles veio a dizer-me:
- Tu buscas a paz e aqui não vai encontrá-la. Observa a atitude dos teus
irmãos. Deus te prepara outro lugar, outra messe.
Queria fazer alguma pergunta aquele
religioso, entretanto, um rumor me despertou e já não vi nada mais. Expus tudo
ao meu confessor, o qual não quis ouvir nem de sonhos nem de frades: Neste
assunto, respondeu-me, é preciso que cada um siga suas inclinações, e não os
conselhos dos outros.
Circunstâncias.
O estudante Bosco tem dezenove anos e
está a ponto de terminar seus estudos civis. Pensa em seu futuro e decide
fazer-se Franciscano. Em 30 de outubro de 1834 faz o pedido para entrar nos
conventuais franciscanos. Realizou seu exame em Turim, no convento de Santa
Maria dos Anjos, e foi acertado em 18 de abril. Os atos dizem: "Possui os
requisitos e todos os votos". Assim, pois, ficou todo preparado para
entrar no convento da Paz em Chieri. Nesses dias têm lugar o sonho.
Convém recordar que Bosco apesar do
sonho faz uma novena com seu amigo Comollo
para a virgem das Graças na catedral de Chieri e confiou seu problema a
um sacerdote, tio do mesmo Comollo, não tomando a determinação de entrar no
Seminário Diocesano de Chieri até depois de receber por carta o conselho deste
sacerdote.
Interpretação
"Tampouco aqui o sonho se pode interpretar de maneira
diversa aos outros: Dom Bosco queria representar o desejo, ou seja, seu
conceito de abraçar o estado
eclesiástico livre, humilde forma de uma inspiração transcendental para dar
maior peso a sua eleição". (Albertotti, 93, nota 6).
19 - AS DISTRAÇÕES NA IGREJA (1861).
Os sonhos se têm dormindo; portanto, eu
estava dormindo. Minha imaginação levou-me a Igreja onde estavam reunidos todos
os jovens. Começou a missa e eus que vi muitos vestidos de vermelho e com
chifres, isto é, há numerosos diabinhos que davam voltas entre os jovens como
oferecendo seus serviços.
A um deles presenteavam um peão; diante
dos outros faziam bailar, a este ofereciam um livro; aquele, castanhas assadas.
A outros, um prato de salada ou um baú aberto em que havia guardado um pedaço
de mortadela; a alguns ele sugeria uma recordação da cidade natal; a outros
sussurrava ao ouvido os incidentes da última partida de jogo, etc.
Alguns eram convidados com os dedos a
tocar o piano, os quais atendiam o convite; a outros eles levavam o compasso de
uma música; em suma, cada jovem tem seu próprio servente que inventava-lhe a
realizar atos estranhos na Igreja. Alguns diabinhos estavam também
encarrapitados sobre as costas de certos jovens e se entreteciam em acariciar-lhes e alisar os cabelos com as
mãos.
Chegou o momento da consagração. Ao
toque da campainha, todos os jovens se arrodearam, desaparecendo os diabinhos,
a exceção dos que estavam sobre os ombros de suas vítimas. Uns e outros
voltaram a cara para a porta da igreja sem fazer algum externo de adoração.
Terminada a Elevação, e aqui se volta a
repetir a cena anterior, repetindo os passatempos e voltando a desempenhar cada
qual o seu papel.
Se queres que eu dê uma explicação deste
sonho, está aqui: creio que neles estão representados as diversas distrações e
as que, por sugestão do demônio, está
exposto cada jovem na Igreja. Os que não
desapareceram no momento da Elevação, simbolizam os jovens vítimas do pecado.
Estes não necessitam que o demônio lhes
apresentasse motivos de distração, porque já lhe pertencem, por isso, o inimigo
lhes acaricia: o que quer dizer que suas vítimas são incapazes de fazer oração.
Observação:
Contado em 28 de novembro. O texto é de
Dom Ruffino, que disse que lhes contou um sonho ou apólogo. O mesmo Ruffino
parece indicar que cabia interpretá-lo como uma invenção educativa de Dom
Bosco, dobre tudo tratando-se do princípio do curso e de que havia crianças novas, aos que lhes
serviam difícil concentrar-se na igreja. Esta impressão aumenta, comparando-o
com "A lanterna mágica", de 1865, e "Os Cabritos", de 1866.
20 - OS JOGADORES (1862).
Pois bem, o 31 de janeiro - é a crônica
de Bonetti quem fala - Dom Bosco passeava depois de comer no pórtico inferior
(baixo), em companhia de uns jovens, quando de repente se deteve, chamou ao diácono João Cagliero e lhe disse em voz
baixa:
- Ouço dinheiro que .............. ,
porém não seu onde se joga. Anda, busca estes três. No ponto perguntei-o:
- De onde vens, onde te havias metido?
Faz tempo que te buscava sem encontrar-te.
- Estava em tal e tal lugar divertindo.
- Que fazias ali?
- Jogava bola.
- Com quem?
- Com N. e com R.
- Jogava dinheiro, verdade?
O Jovem falou entre os dentes umas
palavras, porém não negou com efeito que jogavam a dinheiro.
Então dirigi-me ao lugar indicado, que
estava bastante escondido, porém não encontrei os outros dois.
Continuei buscando e cheguei a saber com
certeza que os ............, dez minutos antes, haviam estado jogando-se
acaloradamente uma voa quantidade de dinheiro.
Então comuniquei o resultado a Dom
Bosco.
Dom Bosco contou no dia seguinte que, na
noite precedente, havia visto durante um sonho aqueles três, jogando-se
apaixonadamente a dinheiro.
Observações:
Estava ordenado que o dinheiro enviado pelos familiares se
entregava ao administrador e este o distribuía prudentemente, segundo as
necessidades e desejos do interessado.
21 - O SACRILÉGIO (1882)
"Uma noite sonhei e vi em um sonho
um jovem que tinha o coração roído pelos vermes e que ele mesmo se quitava e
lançava de si aqueles animais com a mão. Não fiz caso do sonho. Mas eis aqui que, na noite seguinte, veio o mesmo
jovem, que tinha junto de si um cão que o mordia no coração. Não duvidei que o
Senhor queria conceder alguma graça aquele garoto e que o pobrezinho tinha
alguma confusão na consciência.
Perto do dia lhe disse de improviso:
- Queres fazer-me um favor?
- Sim, sim... Se depender de mim.
- Se queres, podes fazê-lo.
- Pois bem, diga-me o que deseja, que o
farei.
- Estás seguro?
- Seguro!
- Diga-me: não tem calado nenhum pecado
na confissão?
Quis negar-me, porém imediatamente
acrescentei:
- E este ou este outro, por que não os
confessaste?
Então olhou-me no rosto, começou a
chorar e me disse:
- O Senhor tem razão: faz dois anos que
quero confessar disso e, desejando de uma vez para outra, não me atrevi a
fazê-lo.
Então o animei e lhe disse o que tinha
que fazer para se por em paz com Deus".
A fita mágica
Pareceu-me estar numa planície coberta
por um número incontável de jovens. Uns brigavam, outros blasfemavam. Aqui se
roubava,, ali se ofendiam os bons costumes. Uma nuvem de pedras, lançadas por
bandos que se faziam a guerra, via-se no ar. Eram rapazes abandonados por seus
pais de costumes corrompidos. Estava já a ponto de fugir daí, quando vi ao meu
lado uma senhora que me disse:
- Põe te entre esses jovens e trabalha.
Fui , mas p que fazer? Não havia um
local onde reuni-los; queria fazer-lhes o bem: e dirigia-me pessoas que estavam
a olhar de longe e podiam ser de valiosa ajuda para mim. Ninguém me ajudava.
Voltei-me para a Senhora e ela me disse:
- Aqui tens um lugar: E me mostrou um
prado .
- Mas aqui, disse eu, não há mais, senão
somente o prado.
Ela respondeu:
Meu filho e os apóstolos não tinham um
palmo de terra onde pousar a cabeça.
Comecei a trabalhar naquele prado;
aconselhava, pregava, confessava; mas vi que (meu esforço) em grande parte
resultava inútil; meu esforço se não encontrasse um edifício e com local onde
recolhê-los e onde abrigar os que haviam sido totalmente abandonados pelos seus
pais e rejeitados e desprezados por todo o mundo. Então aquela Senhora me levou
um pouco mais para o norte e me disse:
E vi uma Igreja pequena e baixa, um
pátio pequeno e muitos jovens. Retornei meu trabalho. Mas, com a Igreja era
muito pequena, recorri de novo a Ela, e me mostrou outra Igreja bastante maior
e com uma casa ao lado. Levando-me depois a um pedaço de terreno cultivado,
quase um frente à fachada da Segunda igreja. E acrescentou.
Neste lugar, onde os gloriosos mártires
de Turim, Aventor, Solutor e Otávio, sofreram seu martírio, sobre essa terra
banhada e santificada com seu sangue, quero que Deus seja honrado de modo muito
especial.
E assim, desejando, adiantou um pé até
descansá-lo no ponto exato onde teve lugar o martírio, e indicou-me com
precisão. Eu queria por um sinal para encontrá-lo quando voltasse nesse lugar,
mas não encontrei nada; nem um palito, nem uma pedra; contudo, fixei-o na
memória com toda exatidão. Corresponde exatamente no ângulo interior da Capela
dos Santos Mártires, antes chamada de Santa Ana, do lado do Evangelho, da
Igreja de Maria Auxiliadora.
Entretanto, via-me rodeado de um número
imenso sempre crescente de jovens; e olhando à Senhora, cresciam os meios e o
local; e vi, depois, uma grandíssima Igreja, precisamente no lugar onde me
disseram haver acontecido o martírio dos santos da região Tebéia, com muitos
prédios ao redor e com o lindo monumento no meio-centro.
Enquanto tudo isso acontecia, sempre
sonhado, tinha como colaboradores Sacerdotes que me ajudavam no princípio, mas
depois fugiam. Buscava com grande trabalho atraí-los para mim, e eles pouco
depois iam embora me deixavam só. Então voltei-me de novo àquela Senhora, que
me disse:
Queres saber como fazer para que não vão
embora? Toma esta fita e ata-lhes na cabeça.
Tomei com reverência a fita branca de
sua mão e vi que nela estava escrito uma palavra: Obediência. Experimentei em
seguida o que a Senhora me indicou e comecei a atar na cabeça de alguns dos
meus colaboradores voluntários com a fita, e vi logo uma grande mudança, de
fato surpreendente. Este fato se fazia cada vez mais patente, à medida que ia
cumprindo o conselho que me havia dado, já que aqueles que deram o desejo de ir
para outra parte e ficavam, por fim, comigo. Assim, constituiu-se a Sociedade
Salesiana.
Vi, adiante, muitas outras coisas que
não é agora o caso de manifestar. Basta dizer que, desde aquele tempo, eu
caminhava sempre seguro.
Nao conhecia os sonhos de Dom Bosco.
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