SACRAMENTOS DE CURA: RECONCILIAÇÃO (Confissão)

POR QUE CONFESSAMOS?

Deus é a fonte da vida e de toda a alegria. Nossa separação de Sua vida, do Reino do Pai e do Filho e do Espírito Santo, inevitavelmente nos leva à corrupção, desespero e morte. Ao entrar neste mundo e se tornar um de nós, Deus, o Filho, Nosso Senhor Jesus Cristo, derrota a morte através da sua própria morte e ressurreição e oferece a todos que nele creem e a Ele se unem a possibilidade de vida eterna.

No sacramento do Batismo somos misticamente, e também realmente, unidos a Cristo e ao Seu Corpo Vivo – a Igreja – através do poder regenerador do Espírito Santo operado nas águas batismais. Nas próprias palavras de Cristo, «Quem não nascer da água e do Espírito, não pode entrar no reino de Deus» (Jo 3:5). Infelizmente, em nosso cotidiano, mesmo após o batismo, continuamos a rejeitar o dom da vida de Deus e seus valores de diversas maneiras. Na medida em que tomamos consciência disso e percebemos quantas vezes «perdemos o selo», compreendemos que o pecado ainda tem controle sobre nós e nos impõe uma barreira entre nós e Deus. «Se dissermos que não temos pecado», escreve São João, «nós nos enganamos a nós mesmos, e a verdade não está em nós» (1 Jo 1:8). O sacramento da Confissão torna-se então para nós o meio pelo qual renovamos a obra salvífica do Batismo em nossas vidas, permitindo que o salutar poder de Deus restaure a relação quebrada entre nós e Ele por causa de nossos pecados. «Se confessarmos os nossos pecados, ele é fiel e justo para nos perdoar  e nos purificar de toda a injustiça» (1 Jo 1:9)

POR QUE É IMPORTANTE?

Todo o pecado perturba nossa relação com Deus e com nosso próximo. Não existe pecado «privado». Mesmo nossos pensamentos mais íntimos acabam por ter um impacto na maneira como nos comportamos e nos relacionamos com os outros e com Deus. Desde os primeiros tempos a Igreja compreendeu que a única maneira de voltarmos a nos reconciliar com Deus e com aqueles a quem ferimos, direta ou indiretamente, era através da confissão pública do pecado. São Tiago escreve em sua epístola: «Confessai vossos pecados uns aos outros». (Tg 5:16) Desta forma, o pecado é exposto e arrancado e não se espalha pelo interior da vida do indivíduo ou da Igreja como um câncer espiritual silenciosamente corroendo o que é bom e saudável.

Na Igreja primitiva a confissão da Igreja era feita ante toda a congregação, mas ao longo dos séculos, o sacerdote permaneceu como única testemunha da Igreja diante de quem apresenta sua confissão a Cristo. Assim, preservou-se a natureza «pública» do sacramento e, ao mesmo tempo, a integridade do ato em relação as  pessoas que podem não demonstrar o devido respeito. O sacerdote exerce então, pela graça do Espírito Santo, a autoridade que Cristo concedeu aos Apóstolos para proclamar o perdão de Deus àquele que realmente se arrependeu e confessou abertamente. «Àqueles a quem perdoardes os pecados, ser-lhes-ão perdoados; àqueles a quem os retiverdes, ser-lhes-ão retidos» (Jo 20:23).

COMO SE PREPARAR PARA A CONFISSÃO?

O Sacramento em si é o ato final em um processo de autoexame e arrependimento diante de Deus. Não pode ser feito mecanicamente e sem qualquer preparação espiritual para que sejamos perdoados por essas coisas que realmente procuramos abandonar. Antes de irmos para a Confissão, precisamos passar algum tempo sozinhos em oração e examinando nossa de consciência sobre nossas ações, quem somos e no que estamos nos tornando. Em silêncio devemos pedir a Deus que nos revele aquelas coisas em nossa vida que se tornaram barreira em nossa relação com Ele. Se é nossa primeira confissão é uma boa ideia repassar toda a nossa vida tomando nota em um pedaço de papel daquelas transgressões ao longo dos anos pelos quais nos sentimos culpados ou que de alguma forma ainda ocupam nossa consciência. Em seguida, examinemos nossa vida mais recente – os últimos meses, semanas e dias – mais de perto. Como guia para nos alertar, é bom ler os 10 mandamentos (Ex 20) e o Sermão da Montanha (Mt 5-7). Essas passagens atuam como um espelho espiritual no qual podemos ver um reflexo de nosso eu interior. Como Deus traz as coisas à mente, nós as notamos e podemos então levar esta «lista» conosco para a confissão. Desta forma, podemos garantir que realmente digamos tudo o que tínhamos planejado e evitemos pular esses pecados que podem nos causar mais constrangimento ou vergonha.

O QUE ACONTECE NA CONFISSÃO?

Cada sacerdote pode conduzir a Confissão de forma ligeiramente diferente, mas geralmente (usando epitrachilion ou estola) fará uma oração introdutória e nos convidará a sentar diante de um ícone de Cristo e fazer nossa confissão. Às vezes, poderá nos fazer perguntas para nos solicitar ou esclarecer um ponto, mas geralmente devemos nos conduzir no encontro como seria uma visita ao médico. Descrevemos ao sacerdote nossos pecados como sintomas de nossa doença espiritual tão honesta e abertamente quanto pudermos para que ele possa orar a Deus pelo nosso perdão e nos aconselhar como enfrentá-los e superá-los em nossa vida cotidiana. Nossa confissão, portanto, tem que ser clara, sem desculpa ou justificação dos pecados. Devemos confiar que Deus conhece todas as nossas circunstâncias e nos perdoará se for necessário. A nós cabe pedir perdão pelos pecados cometidos. No final de nossa confissão, o sacerdote pode nos aconselhar e às vezes nos dar um epitimio ou penitência que não é uma punição, mas um «remédio» que nos ajudará a erradicar o pecado de nossa vida. Ele então nos pedirá para nos ajoelharmos, enquanto impõe o epitrachilion sobre nossa cabeça e recita a oração do perdão nos encorajando a ser confiantes na misericórdia e amor de Deus por nós. Para cada cristão ortodoxo uma confissão sincera é uma oportunidade para purificar a vida interior e fazer um novo começo em nossa relação com Deus – uma oportunidade de entrar mais uma vez na vida e alegria do Reino de Deus.

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